por Ivanildo Terceiro
O Governo Federal é dono ou tem participação majoritária em exatas 154 empresas.
O número já foi maior. Ao final do regime militar, a euforia
nacionalista dos generais-presidentes fez o país chegar a ter 382
estatais sob o controle da União.
Mesmo
com as privatizações das últimas décadas, o governo continua
administrando hospitais, instituições financeiras, centrais elétricas,
gasodutos, linhas de transmissão, petroleiras, hidrelétricas,
ferroviárias, portos, aeroportos, companhias de abastecimento,
armazenamento, fabricantes de armas, e até mesmo empresas que produzem asfalto.
Podendo
recorrer ao bolso do cidadão para cobrir seus rombos, tais companhias
usualmente são mal administradas e utilizadas para atender os fins
políticos do governo de plantão.
Não são raros os casos de projetos atrasados e mais caros que o planejado, apenas por desleixo e má gestão de recursos e funcionários. A Petrobras, por exemplo, chegou a contar com 1.100 profissionais para
sua comunicação, um número 25 vezes maior que o da Vale e duas vezes
maior que o da Shell. Também é comum que decisões que exigiriam estudos e
debates em uma empresa privada sejam tomadas apenas com base em
articulações políticas – como os patrocínios da CAIXA a um sem número de clubes espalhados pelo Brasil.
Tão
habitual quanto é uma estatal ser acometida por ambos os males e ter
que conviver, por motivos políticos, com uma péssima administração.
Cinco
anos atrás, a Eletrobrás era a maior empresa de energia da América
Latina. Agora, teve que receber aportes de quase R$ 2 bilhões pagos pelo
pagador de impostos para sobreviver. Assolada pela corrupção dos seus indicados políticos, a estatal foi obrigada assumir três distribuidoras estaduais
deficitárias e foi a ponta de lança do plano de Dilma Rousseff para
baixar o preço da energia no Brasil na marra, às custas do caixa da
companhia.
Além
de mal administradas, as estatais brasileiras ainda são um risco para a
democracia e o funcionamento das instituições do país. Tendo seus
cargos trocados por votos no
Congresso, tais companhias se tornaram o instrumento pelo qual o
Executivo transforma o Legislativo em um mero anexo dos seus interesses,
ferindo a separação de Poderes e impedindo a efetiva fiscalização e
controle que um poder deve ter sobre o outro.
Não obstante, partidos montam verdadeiros esquemas de assalto organizado a tais companhias, utilizando o dinheiro arrecadado em suas campanhas, desequilibrando e tornando injusta a disputa eleitoral.
Ainda
assim, existem estatais capazes de afetar a vida do brasileiro de uma
maneira diferente, ou se destacarem negativamente no meio da
ineficiência reinante – e por isso deveriam ser privatizadas agora.
1. EBC
Há
quatro anos, os jornalistas da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) –
responsável pela TV Brasil, Agência Brasil e Radiobrás – passaram duas
semanas em greve. Em 2014, repetiram a dose paralisando por um dia. No ano de 2015, não poderia ser diferente, ameaçaram mais uma vez parar suas atividades.
Apesar
das paralisações afetarem diretamente a produção dos programas da
estatal, nada mudou para o grande público. A existência do sistema
estatal de comunicação continuou sendo ignorada. Apesar de não consumir
seu conteúdo, a população paga caro para manter a EBC – apenas nos
últimos oito anos foram R$ 3,6 bilhões. Valor semelhante ao que é investido anualmente pelo Governo Federal na merenda de 39 milhões de crianças.
Além
de cara, a EBC foi utilizada nos últimos anos para pagar salários
altíssimos a apoiadores do governo. Os contratos dos contumazes
defensores das administrações petistas Lúcia Scarano de Mendonça, Emir
Sader, Luis Nassif, Paulo Markun, Tereza Cruvinel e Paulo Moreira Leite
somavam quase R$ 3 milhões por ano.
Mais
do que uma estrutura ineficiente e cara, a EBC é um exemplo do uso da
máquina do Estado para agredir a democracia: pagando jornalistas a peso
de ouro para que eles falem bem do governo de plantão e ataquem qualquer
um que se oponha.
2. BNDES
Segunda
empresa mais antiga desta lista, O Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social é um caso ímpar. Apesar de ser um banco de fomento,
sua função nos últimos anos tem ido muito além daquela que se espera
normalmente de uma instituição do tipo. Nada de apenas captar recursos
de determinadas fontes e aportar em áreas estratégicas para o país. O
BNDES tem voz ativa na economia brasileira.
Desde
2008, foram R$ 523 bilhões investidos pelo governo federal no banco. O
objetivo era bastante claro: fazer os investimentos do país crescerem. O
resultado? Entre 2008 e 2014, a taxa de investimentos da economia
brasileira avançou de 18,2 para 18,3% do PIB. Já a dívida pública, de
onde saíram os tais R$ 523 bilhões, mais do que dobrou.
Foram
dezenas de bilhões por todos os lados, obras no exterior ou
financiamento a grandes empresas nacionais (mais de 67% das verbas do
banco ficavam apenas com 1000 empresas).
Terminada
a festa, o banco passou por um enxugamento no ano de 2015 e outro em
2016, terminando por devolver R$ 100 bilhões ao governo, reduzindo assim
sua capacidade de emprestar a juros menores que a inflação e o custo
que a população acaba pagando por isso.
Que
bancos de fomento existem ao redor do mundo não é novidade. Muitos
deles, como o Eximbank, financiam até mesmo exportações (como o BNDES
fazia com a Odebrecht). O que muda em relação ao caso brasileiro?
Justamente de onde sai o dinheiro.
Enquanto
no exterior a coisa toda funciona como um FGTS, que capta dinheiro
barato e empresta também de forma barata, por aqui, capta-se dinheiro
caro, empresta-se barato, e a conta fica para o pagador de impostos.
Privatizar
o BNDES é uma saída para aumentar o nível de eficiência da economia, ao
obrigar os bancos de investimentos que assumirem seu lugar a cobrar
maiores critérios na hora de emprestar, ou forçar empresas ruins a irem à
Bolsa de Valores, onde a cobrança de resultados e transparência é muito
mais elevada. Para o povo, é uma conta a menos para pagar.
3. EPL
Em
2009, nada parecia parar o Brasil. O país era a próxima sede da Copa do
Mundo e tinha grandes chances de receber os Jogos Olímpicos de 2016.
Foi no clima de “ninguém segura esse país” que a então ministra da Casa
Civil, Dilma Rousseff, anunciou um plano complexo, ousado, e
megalomaníaco: construir um trem-bala ligando São Paulo ao Rio de Janeiro até a abertura da Copa.
A
proposta escolhida pelo Palácio do Planalto prometia que nenhum centavo
seria gasto pelo poder público, a tarifa seria barata e US$ 2 bilhões
em impostos seriam gerados por ano.
Deu tudo errado. O projeto aprovado pelo governo precisava de quatro vezes mais passageiros do que eram transportados por ônibus, automóvel e avião entre São Paulo e Rio de Janeiro para ser viável.
Em 2012, a apenas dois anos da Copa do Mundo, o governo federal tentou dar uma última chance ao projeto. Criou a Empresa de Planejamento e Logística (EPL) com praticamente um único objetivo: destravar o trem-bala brasileiro.
De
cara, o projeto mudou. Passou a envolver o uso de repasses públicos e
contaria também com o BNDES e os Correios como financiadores. Após os
leilões serem adiados três vezes e a Copa do Mundo passar, a obra acabou
simplesmente sendo deixada de lado, apesar do seu projeto-executivo ter
consumido quase R$ 1 bilhão.
Apesar
de ter fracassado em seu objetivo principal, o governo tentou fazer a
EPL realizar o planejamento de outras grandes obras e concessões.
Entretanto, Dilma Rousseff passou a deixar a estatal à margem dos
projetos, e sua estrutura, que custa quase R$ 100 milhões por ano, é simplesmente inútil e cara.
4. Infraero
A
Infraero foi criada em 1973 com a missão de administrar os principais
aeroportos do país. Não muito diferente das outras estatais, a corrupção
se espalhou em todos os níveis da companhia. Apenas uma reforma no
Aeroporto Internacional de Guarulhos teve desvios de incríveis R$ 254 milhões.
Além
da corrupção endêmica, a estatal sofria com uma severa falta de
planejamento. Dado que as obras eram tocadas de acordo com as
conveniências propícias ao superfaturamento e eram mal feitas, a
infraestrutura dos aeroportos foi decaindo ao ponto de em meados do final de 2006, após o acidente do voo Gol 1907, ocorrer um “apagão aéreo”.
Diante
disso, o governo passou a montar planos para repassar a administração
dos terminais aeroportuários para empresas privadas. Por uma decisão
política, a Infraero manteve 49% de participação dos aeroportos
concedidos – e, mesmo não os administrando, a estatal causou problemas.
As
grandes reformas nos terminais exigiam aportes de todos os sócios,
inclusive a Infraero, que sem caixa para fazer frente ao exigido, passou
a ser causa de atrasos nas obras.
Evitando
os erros dos leilões anteriores, o governo decidiu excluir a estatal
dos últimos certamens. O grande problema é que, sem aeroportos para
administrar, a Infraero vem se tornando inútil e acumulando prejuízos. Em 2015, foram R$ 3 bilhões. Ano passado, R$ 767 milhões.
Sua
estrutura inchada pouco ajuda a melhorar a situação. Mesmo movimentando
metade dos passageiros da administradora de aeroportos espanhola Aena, a
estatal brasileira tem um número 31% maior de funcionários nos setores administrativos e nos centros de suporte.
A
infraestrutura aeroportuária é vital para que um país consiga aumentar
sua produtividade e se tornar mais rico. E não conseguiremos fazer isso
enquanto tivermos uma estatal que nos entrega aeroportos piores do que os de países muito pobres como Mali, Tanzânia e Zimbábue.
5. Alcântara Cyclone Space
A
Base de Alcântara, no Maranhão, tem uma localização privilegiada. Por
ser muito próxima ao Equador, os foguetes que são lançados dali precisam
de menos energia. O que permite que missões realizadas a partir de lá
possam transportar mais itens do que as realizadas em latitudes mais
altas.
No
início dos anos 2000, o governo brasileiro planejou alugar a base para
outros países realizarem seus lançamentos. As tratativas com os Estados
Unidos estavam avançadas,
mas foram paralisadas quando o país ao norte da fronteira se negou a
transferir tecnologia e deixar os brasileiros inspecionarem lançamentos
sigilosos.
Com a explosão da
Base de Alcântara que vitimou 21 tecnologistas do Departamento de
Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) em 2003, o governo brasileiro
voltou a procurar um parceiro para a sua aventura espacial.
Curiosamente, resolveu assinar um acordo bastante parecido com o negado
aos americanos, mas, desta vez, com a Ucrânia.
O
acordo, tido como “comercial”, também não previa a transferência de
tecnologia na fabricação de foguetes. Na joint-venture criada entre os
dois países e batizada de Alcântara Cyclone Space (ACS), o Brasil
entraria com a construção do Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA), e
a Ucrânia com o foguete Cyclone-4. O lucro dos sócios deveria vir do
transporte de cargas e o lançamento inaugural seria em 2010.
Nada
do planejado saiu do papel. O foguete não ficou pronto e hoje a Ucrânia
enfrenta uma guerra civil. O CLA não tem ao menos uma previsão de
quando suas obras terminarão, e a União foi condenada a pagar R$ 60 milhões às construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht pelos serviços já feitos.
Após
R$ 500 milhões serem investidos pelo Tesouro brasileiro, o governo
cancelou a parceria no meio de 2015. Nos termos do acordo, Ucrânia ainda
pode obrigar o Brasil a indenizá-la por encerrar o contrato.
Desde 2013, antes mesmo do acordo ser rompido, o Brasil vem negociando com o governo americano um novo contrato para o uso da Base de Alcântara. Assumindo de vez as negociações neste ano.
Nesse meio tempo, o investidor sul-africano Elon Musk fez a SpaceX,
sua empresa de exploração espacial, conseguir reaproveitar foguetes que
já foram lançados, pousando-os em bases instaladas no mar, em vez de
simplesmente descartá-los. A tecnologia promete poupar milhões de
dólares por cada voo espacial.
6. Correios
Um dia eleita uma das marcas mais confiáveis do Brasil, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) vem passando por sucessivas crises e conseguiu a proeza de dar prejuízos bilionários mesmo tendo um monopólio do seu setor.
No ReclameAQUI,
os Correios acumulam 32 mil reclamações de clientes insatisfeitos nos
últimos 12 meses. Nenhuma delas respondida pela empresa.
Não é de hoje que a empresa é alvo de escândalos de corrupção e tem seu uso desviado para atender interesses políticos.
Em
2005, o então chefe do Departamento de Contratação e Administração de
Material dos Correios, Maurício Marinho, foi flagrado em vídeo recebendo
uma propina de R$ 3.000, no que se revelou ser apenas a ponta do iceberg de um complexo emaranhado de assaltos à estatal por indicados políticos.
Nem o plano de saúde dos
funcionários da empresa ficou de fora. Para conseguir fechar negócios,
empresas interessadas teriam que pagar um pedágio a dirigentes da
estatal ligados ao casal de ex-ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e
Gleisi Hoffman (Casa Civil), hoje senadora pelo PT-PR.
Como
se não bastasse, a estrutura da empresa é inchada, com um chefe para
cada dois funcionários, e contendo 9 mil empregados afastados por
licença-médica. Para piorar, enquanto a estatal deu lucro, o governo a
obrigou a pagar pesados dividendos, a fim de maquiar as contas públicas, impedindo que a companhia pudesse realizar investimentos e se tornar mais produtiva.
Em entrevista, o atual presidente Guilherme Campos (PSD-SP) reconheceu que a empresa estava em crise e
que as indicações políticas tiveram seu papel no caminho que a estatal
seguiu. Para ele, “Vamos acabar com as indicações políticas só
privatizando”. Difícil discordar.
7. Todas as estatais de saneamento e água
Em
1999, um em cada quatro moradores de Niterói simplesmente não tinha
água encanada. A Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro
(CEDAE), por sua vez, afirmava que não podia fazer nada. Os técnicos da
estatal se defendiam dizendo que simplesmente não havia de onde tirar
mais água. A culpa era da natureza, não de quem prestava o serviço.
Quatro
anos depois, o serviço de água encanada em Niterói foi universalizado. A
água não apareceu magicamente, mas a gestão melhorou bastante.
Cansada
das desculpas da CEDAE, a prefeitura de Niterói decidiu conceder o
serviço à iniciativa privada. A concessionária continuou captando a
mesma quantidade de água que a estatal, mas diminuiu o índice de perdas de 40 para 16%.
Não
é nenhuma surpresa. A história do relacionamento entre Niterói e a
CEDAE se repete em várias cidades do Brasil. Dos dez piores municípios
no quesito saneamento básico, nove têm o serviço operado por uma estatal. A única exceção é Manaus, que recentemente trocou de concessionária e vem obtendo avanços.
Os incentivos para o desperdício, descuido e corrupção são
os mesmos que em qualquer outro lugar da máquina pública. Com um
agravante: como boa parte das companhias de água e esgoto são estaduais e
municipais, há menos controle dos recursos empregados.
De
fato, ser honesto nestas ocasiões pode ser literalmente fatal. A
servidora Priscila de Goes Pereira foi assassinada ao tentar garantir
que garantir que os recursos do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento
(BID) para a despoluição da Baía de Guanabara fossem adequadamente gastos e contabilizados.
De
acordo com o Instituto Trata Brasil, fora todos os problemas
decorrentes da falta de água e do contato com o esgoto na vida humana,
“em 2012, 300 mil trabalhadores se afastaram por causa de diarreias e
perderam 900 mil dias de trabalho. Outras 2.135 pessoas morreram por
causa de infecções gastrointestinais”.
Água e saneamento básico já se provaram serviços muito importantes para estarem nas mãos do governo.
EXTRAÍDADESPOTINIKS.COM
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