Jornalista Andrade Junior

sábado, 22 de abril de 2017

"Núcleos mais ou menos duros"

Ruy Castro: Folha de São Paulo

Há anos o país tem escutado uma expressão ainda sem assento nos dicionários, mas que todos os políticos, economistas, sociólogos e jornalistas conhecem: "núcleo duro". Núcleo, segundo o "Houaiss", é o centro, o cerne, o eixo, o âmago, a base, a origem, o miolo, o fulcro de alguma coisa. Agora imagine tudo isso, só que duro. Passa a ideia de algo rijo, volumoso, quase fálico, ameaçador —que, se não ficarmos espertos, poderá voltar-se contra nós.

Em política, o "núcleo duro" significa um grupo de pessoas em torno de um líder, para apoiá-lo, protegê-lo, blindá-lo, lambê-lo, afagá-lo e, se preciso, aconselhá-lo ou convencê-lo de que, em tal ou qual circunstancia, a medida a tomar é x, não y. 

Daí que, para fazer parte de um "núcleo duro", o sujeito tem de ser, ele próprio, um peso pesado, alguém capaz de manipular milhões, esmurrar mesas ou erguer um destemido punho. Infelizmente, como a história ensina, os "núcleos duros" são formados de seres humanos, falíveis, e, um dia, tudo que eles representam degringola.

O PT, por exemplo. Se Lula e Dilma precisassem se reunir hoje com o "núcleo duro" que os acompanhou e serviu por tantos anos —Dirceu, Genoino, Delúbio, Delcídio, Vaccari, Pizzolato, André Vargas, Palocci, tantos mais—, não teriam como. Os indigitados estão cumprindo pena e reservando o beliche de cima para os companheiros que logo se juntarão a eles. Já com a estrela secreta de seu "núcleo duro" —Marcelo Odebrecht—, Lula e Dilma não querem mais papo.

O "núcleo duro" em torno de Michel Temer no PMDB —Jucá, Padilha, Moreira Franco, Eunício, Lobão, Renan— também galopa para um estado de irreversível flacidez.

E o PSDB, ajoelhado aos pés de FHC, com Aécio, Serra, Alckmin e coadjuvantes, nunca teve exatamente um "núcleo duro". "Démi-bombé", talvez.




















extraídaderota2014blogspot

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