por Carlos Alberto Di Franco O Estado de São Paulo
A revelação da lista dos inquéritos abertos, no âmbito da Operação Lava
Jato, pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), é
um verdadeiro terremoto no mundo político. Vê-se ali toda a cúpula da
política nacional citada nas delações dos executivos da empreiteira
Odebrecht. Revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo,
a chamada lista de Fachin inclui 8 ministros de Estado, 3 governadores,
24 senadores e 39 deputados. São, no total, 98 investigados com foro
privilegiado.
Além disso, outros pedidos de investigação, como os referentes aos
ex-presidentes Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando
Henrique Cardoso, foram encaminhados às instâncias inferiores, já que os
envolvidos não têm mais foro privilegiado. Na primeira instância, são
201 os investigados.
Como salientou, com razão, editorial do Estado,
se a extensão da lista de Fachin impressiona, não se pode perder de
vista o que ela de fato é. Não é uma lista de condenação, tampouco de
acusação. São autorizações para investigar políticos, a partir de
informações obtidas por meio das delações de executivos da Odebrecht.
Relembrar essa realidade é importante nos tempos atuais, em que o clima
de indignação contra a corrupção parece transformar a mera citação de um
nome num documento de investigação em prova cabal de culpa penal. São
coisas distintas e numa democracia é essencial que cada um preserve a
capacidade de diferenciá-las.
Surpreende, amigo leitor, a afoiteza com que Lula, o PT e seus
defensores tratam de diluir a lambança com o dinheiro público numa
geleia real da bandidagem. A lista de Fachin, insinuam em tom cínico e
melífluo, mostra que o monopólio da pilhagem nacional não é do PT. Não é
mesmo. Mas o PT sistematizou o roubo e transformou a corrupção em
modelo de governança.
A vida pública brasileira, com raras e contadas exceções, transformou-se
num espaço mafioso, numa avenida transitada por governantes corruptos,
políticos cínicos e gangues especializadas no assalto ao dinheiro
público.
Não bastasse tudo isso, e não é pouco, o Brasil foi tomado por um grupo
disposto a impor à sociedade um modelo ideológico autoritário de matriz
marxista: o bolivarianismo. Optaram, esperta e pragmaticamente, pelo
atalho gramsciano: o populismo democrático. O lulopetismo, espertamente,
aplicou um “nova matriz econômica” que deu prioridade aos investimentos
de alto retorno eleitoral – como programas sociais que efetivamente
ajudaram a tirar milhões de brasileiros momentaneamente da miséria, mas
sem nenhuma garantia de efetiva inserção na atividade econômica –
aliados a uma agressiva política de renúncia fiscal, para estimular a
produção, e de “flexibilização” do crédito popular, para estimular
acesso a bens de consumo. O populismo lulopetista optou por investir no
retorno eleitoral imediato, relegando a plano secundário os programas de
investimento de maturação mais lenta em bens sociais como educação,
saúde, saneamento, mobilidade urbana, segurança, etc.
De acordo com a constatação insuspeita de Frei Betto, nas favelas que se
multiplicam por todo o País se encontram hoje barracos devidamente
equipados com geladeira, eletrodomésticos, televisores moderníssimos, às
vezes até mesmo carros populares e outros objetos de consumo, mas
quando saem porta afora as pessoas não encontram escolas, postos de
saúde e hospitais decentes, transporte público eficiente e barato,
segurança adequada, enfim, os bens sociais que são muito mais essenciais
a um padrão de vida digno do que os bens de consumo, que lhes oferecem a
ilusória sensação de prosperidade.
O bolivarianismo tupiniquim, estrategicamente implantado por Lula,
rendeu bons resultados aos seus líderes: muito poder e muito dinheiro.
Não contaram, no entanto, com três fatores complicadores: a força
inescapável da realidade econômica, o papel da liberdade de imprensa e a
independência das instituições.
A política econômica populista, que, como agora se constata, não tinha
possibilidade de se sustentar, provocou a catastrófica crise que
maltrata o Brasil, reduziu a pó o capital político do PT e transformou
Lula num náufrago que se agarra à miragem de sua candidatura em 2018.
Não vai funcionar. Lula é um manipulador, mas tudo tem limites.
Esgotou-se sua capacidade enrolar. A imagem produzida de herói do povo
brasileiro desabou pela força dos fatos no despenhadeiro da decepção.
As recorrentes notas do Instituto Lula a respeito dos imbróglios do
ex-presidente, carregadas de flagrantes incoerências, só reforçam as
suspeitas contra Lula e a sua promiscuidade com empresários corruptos. A
população está revoltada. Sente a mordida da traição populista:
corrupção assombrosa, desemprego, inflação, saúde que definha nos
corredores da morte do SUS.
Lula manifesta crescente irritação com o trabalho da imprensa
independente. Seus sucessivos e raivosos ataques à mídia, balanceados
com declarações formais de adesão à democracia, não conseguem mais
esconder os seus dragões interiores. Lula está desesperado com o avanço
da Lava Jato.
O panorama de ampla, geral e irrestrita bandalheira escancarado pela
divulgação diária de novas e escandalosas pilhagens, de acordos e
chantagens põe o Brasil diante do risco da banalização da safadeza, que
pode matar a indignação, destruir a esperança e produzir um indesejável
fatalismo. É isso, caro leitor, que o petismo quer. Mas é isso que você,
brasileiro honrado, não pode aceitar.
A crise econômica e política é gravíssima. Mas a sua raiz é ética e
moral. O espaço público é um deserto de princípios, de valores e de
grandeza. Virar o jogo não depende de salvadores da Pátria, mas de
trabalho, honestidade e competência.
A democracia tem o melhor remédio: punição e voto. O Brasil vai ganhar o jogo.
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