Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 24 de abril de 2017

"Lula, o PT e os outros",

por Carlos Alberto Di Franco O Estado de São Paulo

 A revelação da lista dos inquéritos abertos, no âmbito da Operação Lava Jato, pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), é um verdadeiro terremoto no mundo político. Vê-se ali toda a cúpula da política nacional citada nas delações dos executivos da empreiteira Odebrecht. Revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo, a chamada lista de Fachin inclui 8 ministros de Estado, 3 governadores, 24 senadores e 39 deputados. São, no total, 98 investigados com foro privilegiado.
Além disso, outros pedidos de investigação, como os referentes aos ex-presidentes Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, foram encaminhados às instâncias inferiores, já que os envolvidos não têm mais foro privilegiado. Na primeira instância, são 201 os investigados.
Como salientou, com razão, editorial do Estado, se a extensão da lista de Fachin impressiona, não se pode perder de vista o que ela de fato é. Não é uma lista de condenação, tampouco de acusação. São autorizações para investigar políticos, a partir de informações obtidas por meio das delações de executivos da Odebrecht.
Relembrar essa realidade é importante nos tempos atuais, em que o clima de indignação contra a corrupção parece transformar a mera citação de um nome num documento de investigação em prova cabal de culpa penal. São coisas distintas e numa democracia é essencial que cada um preserve a capacidade de diferenciá-las.
Surpreende, amigo leitor, a afoiteza com que Lula, o PT e seus defensores tratam de diluir a lambança com o dinheiro público numa geleia real da bandidagem. A lista de Fachin, insinuam em tom cínico e melífluo, mostra que o monopólio da pilhagem nacional não é do PT. Não é mesmo. Mas o PT sistematizou o roubo e transformou a corrupção em modelo de governança.
A vida pública brasileira, com raras e contadas exceções, transformou-se num espaço mafioso, numa avenida transitada por governantes corruptos, políticos cínicos e gangues especializadas no assalto ao dinheiro público.
Não bastasse tudo isso, e não é pouco, o Brasil foi tomado por um grupo disposto a impor à sociedade um modelo ideológico autoritário de matriz marxista: o bolivarianismo. Optaram, esperta e pragmaticamente, pelo atalho gramsciano: o populismo democrático. O lulopetismo, espertamente, aplicou um “nova matriz econômica” que deu prioridade aos investimentos de alto retorno eleitoral – como programas sociais que efetivamente ajudaram a tirar milhões de brasileiros momentaneamente da miséria, mas sem nenhuma garantia de efetiva inserção na atividade econômica – aliados a uma agressiva política de renúncia fiscal, para estimular a produção, e de “flexibilização” do crédito popular, para estimular acesso a bens de consumo. O populismo lulopetista optou por investir no retorno eleitoral imediato, relegando a plano secundário os programas de investimento de maturação mais lenta em bens sociais como educação, saúde, saneamento, mobilidade urbana, segurança, etc.
De acordo com a constatação insuspeita de Frei Betto, nas favelas que se multiplicam por todo o País se encontram hoje barracos devidamente equipados com geladeira, eletrodomésticos, televisores moderníssimos, às vezes até mesmo carros populares e outros objetos de consumo, mas quando saem porta afora as pessoas não encontram escolas, postos de saúde e hospitais decentes, transporte público eficiente e barato, segurança adequada, enfim, os bens sociais que são muito mais essenciais a um padrão de vida digno do que os bens de consumo, que lhes oferecem a ilusória sensação de prosperidade.
O bolivarianismo tupiniquim, estrategicamente implantado por Lula, rendeu bons resultados aos seus líderes: muito poder e muito dinheiro. Não contaram, no entanto, com três fatores complicadores: a força inescapável da realidade econômica, o papel da liberdade de imprensa e a independência das instituições.
A política econômica populista, que, como agora se constata, não tinha possibilidade de se sustentar, provocou a catastrófica crise que maltrata o Brasil, reduziu a pó o capital político do PT e transformou Lula num náufrago que se agarra à miragem de sua candidatura em 2018. Não vai funcionar. Lula é um manipulador, mas tudo tem limites. Esgotou-se sua capacidade enrolar. A imagem produzida de herói do povo brasileiro desabou pela força dos fatos no despenhadeiro da decepção.
As recorrentes notas do Instituto Lula a respeito dos imbróglios do ex-presidente, carregadas de flagrantes incoerências, só reforçam as suspeitas contra Lula e a sua promiscuidade com empresários corruptos. A população está revoltada. Sente a mordida da traição populista: corrupção assombrosa, desemprego, inflação, saúde que definha nos corredores da morte do SUS.
Lula manifesta crescente irritação com o trabalho da imprensa independente. Seus sucessivos e raivosos ataques à mídia, balanceados com declarações formais de adesão à democracia, não conseguem mais esconder os seus dragões interiores. Lula está desesperado com o avanço da Lava Jato.
O panorama de ampla, geral e irrestrita bandalheira escancarado pela divulgação diária de novas e escandalosas pilhagens, de acordos e chantagens põe o Brasil diante do risco da banalização da safadeza, que pode matar a indignação, destruir a esperança e produzir um indesejável fatalismo. É isso, caro leitor, que o petismo quer. Mas é isso que você, brasileiro honrado, não pode aceitar.
A crise econômica e política é gravíssima. Mas a sua raiz é ética e moral. O espaço público é um deserto de princípios, de valores e de grandeza. Virar o jogo não depende de salvadores da Pátria, mas de trabalho, honestidade e competência.

A democracia tem o melhor remédio: punição e voto. O Brasil vai ganhar o jogo.





















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