Pedro do Coutto
Os atores do processo de corrupção desencadeada no país deixaram a conta para ser paga pela população. Ninguém pense que o enorme volume de dinheiro envolvido na tempestade foi pago por qualquer uma das partes que agora contestam sua atuação e sua presença no teatro das operações. Se uma empresa como a Odebrecht, por exemplo, pagou propina, claro que a diferença do custo não saiu do bolso dela. Ela aumentou os preços dos contratos, daí surgindo o superfaturamento consequência lógica da operação.
Verifica-se assim, com base no princípio de que não existe débito sem crédito e vice-versa, a existência de um débito cada vez mais acumulado no tempo. Como se os participantes de um jantar, na hora da saída deixassem a conta para nós todos. Foi o que aconteceu. Nós todos, no caso, representamos a população brasileira.
MENTIRAS E VÍDEO-TAPE – Enquanto com a exibição dos vídeos os principais delatores se discute quem está falando a verdade ou a mentira, a nação é debitada em seus recursos financeiros, os quais, não fosse o assalto praticado, teriam destinação produtiva. O que piora o panorama dramático que está sendo descortinado pelas emissoras de televisão e jornais é que a corrupção é algo profundamente improdutivo. O país está pagando a conta que não constrói nada e só beneficia um grupo de desonestos.
Começaram as afirmações da Odebrecht e as negativas dos acusados, apontados como recolhedores e recebedores das propinas gigantescas fundamentais à trapaça. Esse confronto vai marcar uma etapa decisiva do processo, porque evidentemente os que fizeram transferência de recurso saberão dizer como esta foi realizada. Sobretudo porque, segundo a Odebrecht, cada mochila poderia conter até 3 milhões de reais.
Como os pagamentos parcelados foram em escalas muito maiores deduzimos que foram feitos depósitos bancários dentro e fora do país. Os depositantes portanto, para sustentar suas versões, devem estar de posse dos respectivos recibos.
ONDE E COMO – Da mesma forma, os delatores terão de identificar os locais que as importâncias onde foram entregues e qual a forma do conteúdo corruptor. Numa primeira síntese, surge a controvérsia entre Marcelo Odebrecht e o ex-ministro Guido Mantega. O primeiro dizendo que sim, pagou. O ex-titular da fazenda dizendo que não, não recebeu.
Tais confrontos vão se suceder longamente, da mesma maneira que os processos encaminhados pela Procuradoria Geral da República ao Poder Judiciário, inclusive ao Supremo Tribunal Federal. Exigir as provas é um direito dos que estão sendo acusados e também um aspecto fundamental para o curso dos processos. Mas devemos admitir a hipótese de que o Ministério Público logicamente deve estar de posse de múltiplas provas capazes de sustentar as acusações que apontam os atores de uma peça chamada corrupção sem fronteiras.
extraídadetribunadainternet
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