Ruy Castro Folha de São Paulo
Aconteceu outro dia: o comboio da Polícia Federal passando pelas ruas do Rio sob os aplausos da população. As pessoas sabiam que eles estavam indo em busca de algum bacana —executivo, empreiteiro ou político— habituado a se esbaldar em Paris ou Nova York com o dinheiro que ganhou de propina, desviou dos cofres públicos, deixou de pagar em tributos ou extorquiu direto do nosso bolso. No Brasil, quando a polícia começa a ser aplaudida pelo povo, é porque chegamos às últimas instâncias da confiabilidade.
Numa cidade de cartões postais, como o Rio, não será surpresa se essas caravanas começarem a se tornar atração turística —e gente é que não falta para prender. O chefe da quadrilha carioca, o ex-governador Sérgio Cabral, pode estar atrás das grades, mas seu esquema para assaltar o Estado tem-se revelado tão tentacular que desmantelá-lo ainda renderá muitas incursões a prédios de luxo da Zona Sul. O espetáculo é empolgante: o ilustre morador sendo conduzido para um carro preto sob vaias e bananas dos próprios vizinhos —nesse momento, encerram-se as relações de obas e olás no elevador ou até mesmo de amizade.
Sem falar nos desdobramentos da lista de ilustres do ministro Edson Fachin. A investigação sobre cada um daqueles tubarões revelará a existência de inúmeros bagres e sardinhas que se encarregavam de operacionalizar as falcatruas —gente de quem nunca ouvimos falar, mas sem os quais a bufunfa não chegaria ao destino.
Enganam-se os que supõem que esses aplausos comemorem a prisão de membros da facção x ou y. Ao se descobrir iludido, roubado e falido de todas as maneiras por políticos em quem acreditou e que elegeu por larga margem, o Rio não tem mais preferência.
Quer ver todos eles, não pelas costas, mas de frente e de perfil, e com hora certa para tomar sol.
extraídaderota2014blogspot
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