Fábio Fabrini e Marcelle Gutierrez - O Estado de S.Paulo
Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) implica oito ex-diretores
do BNDES, entre eles o ex-presidente da instituição, Luciano Coutinho,
por suposto favorecimento à JBS S/A, dona da marca Friboi, na compra do
frigorífico americano Swift Foods, em 2007. Conforme relatório técnico
da corte, ao qual o ‘Estado’ teve acesso, os executivos cometeram
irregularidades na aprovação de um aporte de US$ 750 milhões (R$ 2,3
bilhões, em valores atuais) para a aquisição da empresa estrangeira.
O investimento foi uma das operações do BNDESPar – braço do BNDES para a
compra de participação em empresas –, feitas para capitalizar a JBS,
dando apoio a seu crescimento e internacionalização. Com o investimento,
o banco público passou a ser sócio do grupo brasileiro. A estratégia
foi amplamente adotada nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff, com vistas à criação de “campeões nacionais” em alguns setores
da economia.
Para viabilizar a aquisição da Swift, o grupo brasileiro solicitou em
maio de 2007 apoio de cerca de US$ 600 milhões do BNDESPar, mediante
subscrição de ações. Em junho, após uma análise feita pelo banco, o
valor do aporte aumentou para US$ 750 milhões. Com a incorporação da
gigante americana, a JBS se tornou à época a terceira maior empresa de
carne bovina dos EUA.
A auditoria do TCU diz que os atos dos então dirigentes do BNDES
atentaram contra regras do próprio banco e “os princípios
constitucionais da moralidade, da impessoalidade e da eficiência”. Foi
constatado que o BNDESPar pagou ágio de R$ 0,50 para cada uma das cerca
de 139 milhões de ações, o que resultou em prejuízo de R$ 69,7 milhões.
De acordo com o documento, não cabia o pagamento do prêmio, pois não
havia “quaisquer razões de cunho mercadológico” que justificassem
“oferecer valor maior que o preço justo” para a transação.
Os auditores propõem aos ministros da Corte a abertura de uma tomada de
contas especial para aprofundar a investigação sobre essas perdas e
cobrar eventual ressarcimento. Além disso, sugerem que os envolvidos
sejam ouvidos em audiências para explicar diversas outras
irregularidades. Além dos oito ex-diretores, 11 servidores do BNDES, que
participaram do negócio, são apontados como responsáveis.
O relatório foi submetido ao relator do processo no TCU, ministro
substituto Augusto Sherman, que pautou o caso para julgamento hoje.
Outro lado. A
JBS esclareceu, em nota enviada à imprensa, que o Tribunal de Contas da
União (TCU), no desempenho de seu papel de órgão fiscalizador, está
auditando o BNDES e não a JBS.
"Ainda assim, a companhia sempre deixou claro a seus acionistas e ao
mercado em geral que todos os atos societários advindos dos
investimentos do BNDESPAR foram praticados de acordo com a legislação do
mercado de capitais brasileiro, são públicos e estão disponíveis no
site da Comissão de Valores Mobiliários e no site de relações com
investidores da JBS", esclareceu a empresa, que ainda reiterou: "Vale
ainda ressaltar que a JBS já era uma companhia de capital aberto, com
ações negociadas na Bovespa, e todos os investimentos do BNDESPAR na JBS
ocorreram a valores de mercado, dentro do crivo da CVM e em consonância
com a legislação vigente."
De acorco com a JBS, o próprio BNDES se posicionou sobre o atual estágio
de análise do TCU, dizendo que o tribunal decidiu aprofundar seu
trabalho e que essa etapa será uma oportunidade para que o banco
esclareça dúvidas e demonstre que as operações foram lucrativas e
realizadas com o rigor técnico, de forma impessoal e lisura usuais do
BNDES. "A JBS tem absoluta convicção e tranquilidade em afirmar que
todos os negócios feitos com o BNDESPAR foram realizados com total
transparência, seriedade e lisura. Sendo assim, a companhia não tem o
menor receio que ao término do processo, o resultado dele possa afetar
os negócios ou mesmo a situação patrimonial da companhia. Já houve
inclusive uma pericia da Polícia Federal informando a inexistência de
qualquer indício de irregularidades.", informou a empresa, em nota.
O ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho alegou, em nota, ter recebido
“com surpresa” as informações sobre o caso. Ele disse que não teve
acesso ao processo, que corre em sigilo. Coutinho sustentou que a
operação “foi realizada dentro da mais absoluta regularidade, tendo sido
analisada em todas as instâncias pelas equipes técnicas do BNDES”. “Não
cabe falar em prejuízo, porque a operação foi lucrativa para a
BNDESPar. Vale dizer que, desde que o banco se tornou sócio da empresa
até o final de 2015, foram alienadas cerca de 40% das ações, sendo que o
BNDES obteve lucro em seu investimento”, disse.
Coutinho explicou que a operação foi típica do mercado de capitais, com
“parâmetros e procedimentos que não são comparáveis a operações de
crédito”. O ex-presidente do banco salientou ter “total convicção” de
que, uma vez que o tribunal receba todas as informações referentes à
operação, compreenderá que ela foi realizada dentro dos parâmetros de
legalidade e impessoalidade que caracterizam as gestões do BNDES desde
sua fundação’.
extraídaderota2014blogspot
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