editorial de O Globo
Anunciada logo na posse do governo Temer como o primeiro pilar do
projeto de ajuste fiscal, básico para a economia poder se recuperar, a
PEC do teto parecia inalcançável. Porque, ao estabelecer a inflação do
ano anterior como limite para a ampliação das despesas, a proposta de
emenda constitucional ia de encontro a uma tendência que se cristalizara
— de expansão sem freios dos gastos, acima mesmo da inflação e do
próprio crescimento do PIB.
Tratava-se de algo insustentável, mas que foi mantido quase até o fim
pela gestão Dilma Rousseff, sustentada numa fé religiosa no dogma de que
o crescimento das despesas recuperaria o sistema produtivo, pois, com
dinheiro no bolso, as pessoas consumiriam sem parar, e assim por diante.
Uma ingenuidade ideológica, no mínimo.
A gastança interessa a corporações que vivem do acesso ao Tesouro. Daí a
enorme resistência política à PEC, inclusive violenta. Mas o
desequilíbrio fiscal foi tanto que até o funcionalismo, em estados como
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, sente no bolso o que significa uma
funda recessão provocada pela perspectiva de insolvência do Estado.
Mas, apesar de toda resistência, e em meio a uma crise política séria,
na qual a capacidade de governar do Planalto de Temer está em jogo,
ontem a PEC foi aprovada no Senado de forma definitiva e irá à sanção
amanhã. É a melhor notícia desde a posse de Temer porque, afinal, o
ajuste começa a tomar forma. É verdade que, para se firmar, ele
necessita da contenção do crescimento autônomo dos gastos da
Previdência. Sem isso, o teto se tornará inócuo.
Indexados ao salário mínimo/inflação, gastos previdenciários e sociais,
de forma geral, se expandem sem controle. O déficit do INSS passa este
ano dos R$ 100 bilhões, e não parará de subir em alta velocidade, se a
reforma não for aprovada no Congresso — idade mínima de 65 anos para
habilitação à aposentadoria, novas regras para pensões, desindexação de
benefícios etc.
Mas já é importante haver o teto. Com ele, as despesas passam a ter
alguma previsibilidade — e freio. E com a inflação em queda, melhoram as
perspectivas fiscais, fator-chave para ajudar na retomada de confiança
geral: investidores e consumidores. Sem controle, em pouco tempo a
dívida pública saltou de 50% para 70% do PIB, rebaixou a nota de risco
dos títulos brasileiros para o nível de “lixo”, estancou investimentos e
a busca por crédito — no caso do consumo, porque as famílias já haviam
também esgotado a capacidade de endividamento. O teto dos gastos, a
vigorar por 20 anos, podendo ser revisto na metade do período, dá
esperança de que o regime fiscal da economia brasileira passará a ser
sensato.
Ao vigorar o limite de despesas, a partir do ano que vem, ficará
evidente que as acusações contra a PEC não tinham fundamento, eram de
fundo político-partidário. Não haverá corte de despesas, apenas elas,
como um todo, deixarão de crescer mais que a inflação. Nem Educação e
Saúde serão prejudicados. Basta o administrador público economizar em
outras áreas para gastar nestas. Inclusive, além da inflação.
O Brasil tende, assim, a ser um país normal, em que governos são
forçados a definir prioridades nos gastos. Vem disso a importância da
confecção do Orçamento. Por mais desenvolvido que seja um país, há
limites para despesas. O Brasil cai na real.
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