editorial do Estadão
A essência do plano de negócios da Eletrobrás para os próximos cinco
anos é uma proposta de superação da tragédia administrativa, financeira e
operacional em que a empresa foi lançada pela irresponsável política
energética imposta à estatal e a todo o setor elétrico pelo governo
Dilma Rousseff. Baseada numa insustentável redução de tarifas para o
consumidor final e em regras de renovação de concessões que se mostraram
danosas para todas as empresas do setor e para o contribuinte, a
política dilmista resultou em pesadas perdas para a Eletrobrás, que
agora, com novo modelo de gestão, tenta se recompor financeiramente e
iniciar a recuperação de sua imagem perante os investidores. Sem
equilíbrio financeiro, de nada adianta anunciar programas mirabolantes
de expansão de sua capacidade operacional.
O Plano Diretor de Negócios e Gestão para o período de 2017 a 2021
aprovado pelo Conselho de Administração da Eletrobrás prevê
investimentos de R$ 35,8 bilhões para o período, o que significa redução
de 29% em relação ao total de R$ 50,3 bilhões em investimentos previsto
no plano anterior, para o período 2015-2019. Grande parte desse
montante será destinada à conclusão de programas de geração e de
transmissão já contratados. O valor previsto para o quinquênio 2017-2021
sugere que a estatal terá participação tímida em novos investimentos no
setor elétrico no período.
O principal objetivo da empresa nos próximos anos será reduzir sua
dívida. A relação entre dívida líquida e capacidade de geração de
recursos (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização,
conhecido como Ebtida) estava em 8,7 no fim de setembro. O objetivo é
reduzi-la para 4 até o início de 2019.
Para alcançá-lo, além de cortar os investimentos, a estatal pretende
transferir para grupos privados o controle de distribuidoras de energia
que controla, vender participações minoritárias e obter ganhos de
eficiência. O programa de privatizações deve começar com a venda da Celg
Distribuição (Celg D), que pode render R$ 913 milhões.
No campo operacional, os ganhos podem ser expressivos. Além do desastre
financeiro que o programa para o setor elétrico do governo Dilma impôs à
empresa, a administração petista utilizou a Eletrobrás e outras
estatais para seus objetivos político-partidários, quando não para
rechear cofres dos partidos aliados do governo e bolsos de funcionários e
políticos.
“Desde 2012 até hoje, enfrentamos um processo de baixa eficiência
operacional”, disse o presidente da empresa, Wilson Ferreira Jr., ao
comentar o novo plano de negócios. Os custos operacionais de geração e
transmissão da Eletrobrás são maiores que os das empresas privadas
similares, nacionais e estrangeiras.
A empresa pretende também promover uma reestruturação administrativa,
com a redução do número de funções gratificadas de assistentes,
assessores e gerentes. Está em negociações com o governo a execução de
um plano de aposentadoria incentivada, para o qual já foram
identificados 4.937 funcionários em condições de utilizá-lo.
Embora de impacto não tangível, “a nova cultura empresarial focada em compliance”
da Eletrobrás – como ela a define – significará uma mudança radical em
relação aos métodos de gestão da era lulopetista. A empresa reconhece
que, na administração anterior, não havia um ambiente de controle
efetivo sobre suas práticas administrativas, contábeis, de investimentos
em outras empresas, de prevenção e combate à corrupção e de preservação
dos valores éticos previstos em seus códigos e estatutos.
Por isso, seu Programa de Negócios e Gestão tem como foco, além da
disciplina financeira e a busca da excelência operacional, a governança e
o alinhamento de suas práticas aos padrões reconhecidos
internacionalmente. Se esse objetivo for cumprido, práticas danosas e
até criminosas que vão sendo identificadas em gestões anteriores não se
repetirão, embora suas consequências ainda persistam e imponham
dificuldades à empresa.
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