Gustavo Franco: O Globo
Um dia desses, o presidente da Petrobras mesmerizou uma plateia de escolados economistas narrando as emoções de muitos de seus funcionários quando souberam do “petrolão”. Muito choro, vergonha e revolta, além do inconformismo diante da reação popular hostil com relação à empresa.
Pedro Parente então explicou que a chave para a fase de reconstrução que ele vem conduzindo é ter claro que a Petrobras foi a vítima, simples assim.
Diferentemente de outras empresas atingidas por escândalos e que estão na ponta dos beneficiados pela corrupção, a Petrobras foi a perdedora. É quem deve ser indenizada.
De um jeito ou de outro, uma vez compreendida a derrota, o tamanho do buraco e as falhas de governança na raiz do problema, é preciso ir atrás do resultado. A vida continua.
É claro que a Petrobras não é apenas uma metáfora do Brasil, mas uma réplica em miniatura: o Brasil foi a vítima.
O drama é muito parecido: megalomania e irresponsabilidade induzida por corrupção, ideologia e analfabetismo econômico. O conserto vai ser longo e dolorido, não há outra maneira de fazer.
A renovação da vida política, inclusive e principalmente nos chamados “quadros políticos”, só fará bem à economia, por mais turbulência e incerteza que produza no curto prazo. A classe política parece à beira de um ataque de nervos. As ansiedades e divisões são tamanhas que mesmo uma banalidade dita pelo presidente, como “é preciso unir o país”, parece uma provocação.
É gigantesco o desafio diante do presidente Temer. A mim, lembra muito 1993, quando outro vice-presidente assumiu um país politraumatizado, em condições econômicas horríveis e com o Congresso devastado por um escândalo na Comissão de Orçamento.
Temer copiou Itamar em constituir um importante ativo político apenas seu, uma equipe econômica de primeira linha, a quem deu poderes para resolver a encrenca. Pois bem, o que se seguiu teve uma lógica que, em 1993, era sempre comparada a um jogo de basquete. Uma partida a cada dia, onde você começava sempre perdendo por 30 pontos e o adversário estava muito vivo e atacando.
É fácil se afobar, deixar-se seduzir com possibilidades mirabolantes, mas logo se aprende o óbvio, não existe cesta de 20 pontos. A recuperação terá que ser construída uma jogada de cada vez, e atuando agressivamente na defesa. Você não vai evitar que seus adversários façam pontos, mas precisa reduzir ao máximo os acertos deles e maximizar os seus.
A PEC do Teto e a da Previdência podem valer três pontos, mas o jogo vai ser ganho nos fundamentos, com paciência e sobretudo com uma atuação em várias frentes, agendas e iniciativas. A chave está na capacidade de execução.
Não olhe agora, mas o governo Temer vai completar quatro meses no último dia de 2016. Os mais longos quatro meses de qualquer outro presidente que consigo lembrar. Há muitas providências novas e boas, uma infinidade de correções de rota, mas a sensação de insuficiência é dominante, pois ainda estamos no interior da depressão deixada por Dilma Rousseff. A verdadeira extensão do estrago causado pela presidente e sua quadrilha não está clara para o país e a opção por não esticar esta corda atende ao desejo magnânimo de não aprofundar conflitos. O fato é que as investigações e apurações, em Curitiba e no exterior, lançarão novas luzes sobre a dinâmica interna da quadrilha que esteve no comando das decisões econômicas nos últimos anos e que nos colocou nesse atoleiro.
Independentemente do que a política trouxer, 2017 vai ser um ano de desafios de execução em múltiplas frentes na economia, defesa e ataque, foco nos fundamentos. Vamos, por favor, evitar as piruetas e tentativas heroicas, pois, como está enunciado acima, não há cesta de 20 pontos.
Os princípios da boa política econômica costumam funcionar e em ambientes difíceis onde há déficit de credibilidade, ou muitos ferimentos anteriores, pode ser mais demorado. A medicina convencional funciona, e deve ser praticada por profissionais devidamente credenciados, como os de agora, com paciência e determinação.
Será importante recuperar a economia em 2017 fortalecendo princípios básicos, moeda sadia, responsabilidade fiscal, cidadania global, economia de mercado, liberdade e democracia. Não há atalhos, apenas a permanente tentação oferecida pelo charlatanismo.
Dessa forma, 2017 poderá ser o ano do reencontro do bom senso econômico, que tantos desaforos sofreu do governo anterior. Tomara que sim, pois em 2018 teremos algo mais próximo de um consenso nacional em torno do que faz sentido na economia e menos ansiedade quanto ao portador dessa mensagem.
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