Já
imaginou morar numa Avenida Adolf Hitler? Estudar numa Escola
Estadual Benito Mussolini? Fazer uma consulta num Hospital Estadual
Augusto Pinochet? Bancar um festival integralmente dedicado à propagação
do fascismo?
Parece
absurdo, não? No Brasil, no entanto, nada disso soa estranho às
autoridades quando os personagens totalitários em questão são ligados à
extrema-esquerda.
Cada vez
mais comuns, entopem de norte a sul do país, ruas e avenidas, hospitais e
escolas públicas, praças e monumentos, que quando não homenageiam o
socialismo em si, fazem ode a diferentes lideranças socialistas – e
entre eles, alguns dos maiores ditadores que o mundo já conheceu.
Não há uma
lei nacional que proíba menção a ditadores em monumentos e espaços
públicos brasileiros. Mas não são raros os projetos municipais que visam
banir – de forma correta – homenagens públicas a figuras da ditadura
militar brasileira. Como diz
Rogério Sottil, secretário-adjunto de Fernando Haddad em São Paulo,
essas medidas visam dar fim “a homenagens a símbolos do autoritarismo
estatal nos espaços de nossa cidade”.
Até o
momento, no entanto, homenagens a líderes totalitários ligados à
extrema-esquerda não estão comovendo as autoridades a manter as mesmas
posições. E, acredite: elas são cada vez mais comuns.
1) A revolução será cartografada.
O que não faltam no Brasil são ruas em homenagem ao socialismo.
Há uma Rua Socialista em Diadema (SP), em São Paulo (SP) e em Macapá (AP).
Há uma Rua Fidel Castro em Fortaleza (CE), em Feira de Santana (BA), em Delmiro Gouveia (AL) e em Parauapebas (PA).
Há uma Rua
Carlos Marighella em Salvador (BA), em Campina Grande (PB), em Recife
(PE), em Maricá (RJ), em Porto Alegre (RS), em Blumenau (SC), em São
Paulo (SP), em São Bernardo do Campo (SP) e em Ribeirão Preto (SP).
Há uma Rua
Karl Marx em São Paulo (SP), em Diadema (SP), em Sapiranga (RS), em
Cabo Frio (RJ), em Ferraz de Vasconcelos (SP), em Mauá (SP), em Criciúma
(SC) e em Maracanaú (CE) – há também uma Rua Friedrich Engels em
Criciúma (SC).
Há uma Rua Lênin em Diadema (SP), em São José dos Campos (SP), em Porto Alegre (RS) e em Belo Horizonte (MG).
Em Serra,
no Espírito Santo, a Rua Lênin faz cruzamento com a Rua Trostki. Em
Paulista, Pernambuco, a Rua União Soviética cruza com a Rua Alemanha
Oriental.
Em Belém,
capital do Pará, há uma Rua Revolução Cubana, uma Rua Bolchevique, uma
Rua Marx, uma Rua Carlos Marighella e uma Rua Democracia Operária.
Há também uma Rua
Josef Stálin, em São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, e
uma Rua Mao Tse Tung, em Serra, no Espírito Santo – onde se estabelece um monumento no mínimo curioso: a Igreja Imaculado Coração De Maria, templo de uma religião duramente perseguida pela Revolução Cultural chinesa
Já pensou uma sinagoga numa Rua Adolf Hitler? Não duvide. Isso definitivamente seria possível no Brasil.
2) A Vila Socialista
Em
Diadema, a revolução tomou as esquinas. Há referências à esquerda para
todos os gostos. Todas vizinhas umas às outras num bairro conhecido como
Vila Socialista.
Num
canto muito pobre do Brasil, completamente abandonado pelo poder
público, elas se espremem como podem: Rua Bolchevik, Rua da Revolução,
Rua dos Sovietes, Rua dos Operários, Rua Cuba Livre, Rua do Socialismo
Científico (imagem acima), Rua dos Proletários, Rua dos
Sindicalistas, Rua da Resistência, Rua da Conquista Popular, Rua dos
Camaradas, Rua dos Revolucionários, Rua dos Comunistas, Rua do
Manifesto, Rua Leon Trotsky, Rua Vladimir Lenin, Rua Karl Marx, Rua
Engels e Rua Carlos Lamarca.
A
origem é proletária. As ruas são estreitas. As casas são simples e
verticais. O bairro nasceu após ocupações realizadas no início da década
de noventa. Os moradores tinham duas opções: Vila Socialista ou Vale do
Rio Doce. Não pensaram duas vezes.
Entre as críticas mais comuns
dos moradores, dois dos maiores problemas que qualquer periferia
brasileira está acostumada a lidar: a sujeira nas ruas e a falta de
policiamento.
“Tem muito assalto por aqui. Eu mesma já fui assaltada seis vezes”, conta Zina Oliveira, uma comerciante de 49 anos.
O problema
é endêmico, mas um tanto irônico. Na Vila Socialista, comerciantes
ainda protestam em oposição à violência contra suas propriedades
privadas.
3) Quando um ditador vira referência para salvar vidas.
Che Guevara é provavelmente o grande ícone da esquerda latino-americana. No Brasil, não haveria de ser diferente. Há ruas em sua homenagem em todos os cantos do país: em Diadema
(SP), em Belém (PA), em Cachoeirinha (RS), em Paulista (PE), em Caruaru
(PE), em Vitória da Conquista (BA), em Eunápolis (BA), em Cariacica
(ES), em Serra (ES), em Santa Maria (RS), em Pelotas (RS), no Rio de
Janeiro (RJ), em Sumaré (SP), em São José do Rio Preto (SP), em Campinas
(SP), em Canoas (RS), em Ponta Grossa (PR), em Curitiba (PR), em
Blumenau (SC), em Criciúma (SC), em Sapucaia do Sul (RS), em Patos de
Minas (MG), em Ananindeua (PA), em Goiânia (GO) e em Caxias do Sul (RS).
Em Porto Velho, a capital de Rondônia, há uma Rua Che Guevara no Bairro Socialista (mapa abaixo). Há
também um bairro inteiro chamado Che Guevara na cidade de Marituba, no
Pará, e uma praça em sua homenagem em Porto Alegre e em Belo Horizonte.
Che ainda homenageia unidades públicas de saúde em Ribeirão Preto (SP), em Angatuba (SP), em Niterói (RJ) e em Umbauba (SE).
No Brasil, El Carnicero de La Cabaña virou referência para salvar vidas.
4) Quando o dinheiro público banca uma utopia ideológica.
É em Maricá (RJ), no entanto, que Che Guevara recebeu sua maior homenagem em solo tupiniquim: a construção do Hospital Municipal Dr. Ernesto Che Guevara, um complexo de 38 mil metros quadrados, avaliado em R$40 milhões e com previsão de entrega para o segundo semestre desse ano.
A referência vem gerando polêmica,
com protestos e abaixo-assinados contrários à homenagem. A Prefeitura
se justifica dizendo que compreende o direito à crítica mas que defende a
homenagem ao Carnicero de La Cabaña pela “contribuição à luta
por um atendimento humanizado e universal – um desejo que transcende
fronteiras – dada por este importante médico sanitarista, personagem
eterno na história política internacional”. Na cidade há também um
conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida chamado Residencial Carlos Marighella.
Governada
pelo prefeito Washington Quaquá, presidente estadual do PT no Rio de
Janeiro, Maricá entrou no noticiário político nacional há pouco tempo,
quando grampos de uma conversa com o ex-presidente Lula, revelaram a
opinião do prefeito do Rio, Eduardo Paes, sobre a cidade: “uma merda de
lugar”.
Eleito
prefeito de Maricá pelo PT pela primeira vez em 2008, Quaquá foi
reeleito em 2012, acusado de usar os programas sociais da Prefeitura
para alavancar sua campanha. Em 2013, foi condenado pela Justiça
Eleitoral por abuso do poder político e conduta vedada a agente público.
Não foi, no entanto, cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de
Janeiro, que optou por torná-lo inelegível por oito anos.
Há poucos meses, Quaquá, o prefeito com apelido de deboche, colocou Maricá novamente no noticiário político ao bancar R$ 4 milhões dos cofres públicos com um evento de propagação a ideias socialistas – o 1º Festival Internacional da Utopia – que acabou se tornando um grande ato em defesa da então presidente afastada Dilma Rousseff.
Construído
para discutir alternativas ao capitalismo, seguindo a linha do Fórum
Social Mundial, o festival de Maricá reuniu com destaque artistas e
figuras políticas intimamente ligados ao PT: Lula, João Pedro Stédile
(líder do MST), Eduardo Suplicy, Jandira Feghali, Vagner Freitas (líder
da CUT), Guilherme Boulos (líder do MTST), Pablo Capilé (líder do Mídia
Ninja), Wadih Damous, Dilma Rousseff, e ainda Racionais MC’s, Flávio
Renegado, Chico César, Beth Carvalho, Tico Santa Cruz, Emicida e Aleida
Guevara (filha de Che Guevara).
Em aberto
no festival, discussões como o “financiamento de mídias progressistas”, a
“resistência ao projeto neoliberal”, “a importância dos bancos públicos
na redução das desigualdades sociais”, “a esquerda diante do avanço
conservador na América Latina”, a defesa “da Petrobrás como motor de
desenvolvimento nacional” e a Lei Rouanet como alternativa “para o
financiamento à cultura”.
Um ode à utopia ideológica bancado integralmente pelos pagadores de impostos de todas as orientações políticas.
5) Educação militante
Se são constantes as denúncias envolvendo doutrinação ideológica na educação brasileira, não faltam exemplos de escolas públicas espalhadas pelo país que homenageiam líderes socialistas.
Há escolas em homenagem a Che
Guevara em Mesquita (RJ), em Monte Do Carmo (TO), no Rio de Janeiro
(RJ), em Tanguará da Serra (MT), em Nova Esperança do Piriá (PA), em
Santo Amaro (BA), em Pedro Canário(ES), em Vitória da Conquista (BA) e
em Herval (RS).
Há uma escola em homenagem a Carlos Marighella em Salvador (BA), em São Gonçalo (RJ) e em Marabá (PA).
Há uma Escola Estadual Simon Bolivar e uma Escola Estadual Vila Socialista, em Diadema (SP).
Há uma Escola Mao Tsé Tung em Boa Vista do Tupim (BA).
Por fim, em Medeiros Neto, na Bahia, já há até uma Escola Municipal Comandante Hugo Chávez.
6) Ele homenageou socialistas na construção de escolas municipais. E foi condenado a 10 anos de prisão por desviar dinheiro de merenda.
Canguaretama
é uma pequena cidade no Rio Grande do Norte com pouco mais de 30 mil
habitantes. Por lá, Jurandir Freire Marinho, do PDT, realizou seu grande
trunfo na vida pública – como prefeito, ergueu três escolas municipais:
a Comandante Fidel Castro, a Comandante Ernesto Che Guevara e a Libertador Simón Bolívar.
Na Escola de Tempo Integral Comandante Fidel, que fica na BR-101, duas estátuas, uma do próprio Fidel e outra de Che Guevara, dão o ar da sua graça logo na entrada. A Folha de São Paulo foi
ao local e perguntou aos alunos quem foram o argentino Che Guevara, o
venezuelano Simón Bolívar e o cubano Fidel Castro. Ninguém se arriscou a
dizer.
Marinho,
no entanto, usou dessas obras para tentar criar um verdadeiro feudo
político. Após dois mandatos em Canguaretama, se candidatou a prefeito
de Pedro Velho (a 88 km da capital) e tentou emplacar a mulher, Fátima
Marinho, também do PDT, na Prefeitura de Baía Formosa (106 km de Natal).
Fátima foi sua secretária da Ação Social, em Canguaretama. Antes disso,
ainda conseguiu eleger a filha, Gesane Marinho, do mesmo PDT, deputada
estadual do Rio Grande do Norte, sem qualquer experiência política.
Sua história com as escolas que construiu, no entanto, não terminam na propaganda política. Em 2013, Marinho foi condenado a dez anos e dois meses de prisão por ter simulado procedimentos licitatórios para a compra de merenda escolar.
De acordo
com a denúncia do Ministério Público, o Município de Canguaretama
recebeu do Ministério da Educação a quantia de R$ 392.707 para a
aquisição de merenda escolar. Marinho realizou diversos procedimentos
licitatórios, em espaços curtos de tempo, na modalidade convite,
fracionando as aquisições para evitar a licitação na modalidade
tomada de preços. Em todos os procedimentos saiu vencedora a mesma
empresa: a Fernandes e Teixeira LTDA., que pertence ao empresário João
Alberto Teixeira da Silva, acusado de fraudar os contratos, elevando os
itens contratados.
Em sua defesa, Marinho disse que não entendia de procedimentos licitatórios.
O Índice
de Desenvolvimento Humano de Canguaretama (0,579) é menor que o do Timor
Leste, da Síria, da República do Congo e de Zâmbia.
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