Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

"De olho neles",

 editorial da Folha de São Paulo

Este foi sem dúvida um ano atípico. Normalmente estará certo quem afirmar, mesmo sem base para isso, que os deputados federais e senadores trabalharam pouco. Não neste 2016, contudo.

Verdade que, ao final de dezembro, terão desfrutado quase dois meses de férias a que têm direito nos termos da Constituição, além de inúmeros feriados que não hesitam em prolongar. O Dia de Finados, por exemplo, encravado numa quarta-feira, terminou emendado para a frente e para trás —e o Congresso parou por toda a semana.

Ainda assim, sem que uma coisa justifique a outra, a Câmara e o Senado conheceram uma rotina intensa como poucas em sua história.

Houve, naturalmente, o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Votado pelos deputados no dia 17 de abril, recebido pelos senadores em 11 de maio e finalizado em 31 de agosto, o processo de deposição da petista cobrou dos parlamentares uma dedicação a que decerto não estavam acostumados.

Houve ainda a cassação de dois congressistas, fato pouco usual entre os políticos brasileiros —não por escassear o desvio de conduta, mas por sobejar o corporativismo.

Em maio, Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) tornou-se o terceiro senador a perder o cargo pelo voto de seus colegas. Em setembro, o ex-mandachuva Eduardo Cunha (PMDB-RJ) engrossou a lista um tanto mais extensa de deputados cassados desde a redemocratização.

Os parlamentares, como se sabe, não restringiram sua atuação a esses episódios. 

Também debateram e aprovaram diversas iniciativas necessárias para o país, entre as quais se destaca a emenda à Constituição que estabelece um teto para o aumento das despesas federais, grosso modo limitando-o à inflação do ano anterior.

Além disso, mudaram para melhor as regras de exploração do pré-sal, sacramentaram a Lei de Responsabilidade das Estatais e avançaram na reforma do ensino médio, para ficar em apenas três casos.

Nada disso, porém, evitou que o Congresso conhecesse a pior avaliação da série histórica de pesquisas feitas pelo Datafolha. Segundo o instituto, 58% dos brasileiros consideram ruim ou péssimo o trabalho dos parlamentares. Antes disso, o índice mais alto era de 56%, registrado em 1993, à época do escândalo dos anões do Orçamento.

Passados 23 anos, fatos ainda mais graves suscitam a desaprovação recorde. São as teias de corrupção descortinadas pela Lava Jato, que sugerem um percentual assombroso de deputados e senadores acostumados a alugar seus mandatos para empresas privadas, que pagam os serviços com dinheiro roubado dos cofres públicos.

Que os brasileiros não se enganem: os políticos farão de tudo, em 2017, para livrar a própria cara. Que os políticos não se enganem: a sociedade estará de olho.






















extraídaderota2014blogspot

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