editorial da Folha de São Paulo
Num momento em que associações de juízes batalham para manter as
regalias de uma categoria excessivamente privilegiada e em que
integrantes de cortes superiores fazem pouco da Lei Orgânica da
Magistratura, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal
(STF), deu um bem-vindo exemplo na segunda-feira (19).
Era o último dia de expediente antes do recesso judicial de final de ano —as atividades serão retomadas apenas em fevereiro. Teori acabara de receber os depoimentos constantes dos 77 acordos de delação premiada fechados por ex-funcionários do grupo Odebrecht. O material ficaria parado no Supremo por mais de 40 dias?
"Em face dessa excepcionalidade, nós vamos trabalhar [em janeiro]", declarou, referindo-se a si e aos membros de seu gabinete.
Há muito trabalho pela frente. O ministro precisa analisar os
documentos, além de ouvir advogados e delatores sobre os termos dos
acordos negociados com a força-tarefa da Lava Jato. Só então poderá
homologá-los para que seu conteúdo seja utilizado em inquéritos ou ações
penais.
Avançar com celeridade é um imperativo. Pelo pouco que já se sabe, os
delatores imputam condutas ilícitas a um sem-número de políticos dos
mais diversos partidos.
Destacam-se, naturalmente, figuras de primeiro plano no atual cenário: o
presidente Michel Temer (PMDB), Eliseu Padilha (ministro da Casa Civil)
e Moreira Franco (secretário do Programa de Parcerias em
Investimentos), além de Romero Jucá (PMDB-RR, líder do governo no
Senado).
São óbvias as dificuldades decorrentes dessa circunstância. A
administração federal permanecerá envolta em névoa de suspeita enquanto a
Justiça não chegar a um veredito sobre o papel que cada um desses
personagens de fato exerceu no enredo descrito por ex-executivos da
Odebrecht.
O mesmo se diga do Congresso. Segundo Claudio Melo Filho,
ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empreiteira, o grupo
desembolsou pelo menos R$ 16,9 milhões para garantir a aprovação de
emendas em medidas provisórias. Pelos cálculos desta Folha, duas delas renderam à Odebrecht ao menos R$ 8,4 bilhões.
Cumpre lembrar que, por ora, as delações não passam de histórias
verossímeis. Precisarão ser comprovadas no âmbito judicial, e aos
acusados ainda serão oferecidas todas as oportunidades de defesa.
Trata-se, até pela complexidade do caso, de um processo demorado. O
país, contudo, tem pressa —e o ministro Teori Zavascki, com a diligência
e a discrição que caracterizam seu trabalho, acerta ao concluir que não
há tempo a perder.
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