Ruy Castro:Folha de São Paulo
Entreouvido num quiosque de Ipanema. O vendedor de coco conta que sua
mãe morreu e os herdeiros brigam pelo espólio — uma casa perto do
Engenhão, com puxadinhos. Cada herdeiro se diz dono de um puxadinho, o
qual quer passar nos cobres. Tudo sem registro, escritura ou documento.
Há milhões de propriedades como essa no país. O Brasil é o país do
puxadinho. E não só no quesito moradia.
A decisão do Supremo de permitir a Renan Calheiros continuar na
presidência do Senado, mas sem direito a substituir o presidente da
República, foi um puxadinho à lei. A decisão do Senado de impichar Dilma
Rousseff, mas permitir que ela conservasse os direitos políticos, foi
outro puxadinho. E — mais claro do que nunca — o próprio governo de
Michel Temer é um puxadinho dos governos de Lula e Dilma.
Apenas entre os citados pelo delator Cláudio Melo Filho, da Odebrecht,
como campeões da extorsão e da propina, há vários ministros do atual
governo que já serviram — e se serviram — dos dois lados. Eliseu
Padilha, por exemplo, chefe da Casa Civil de Temer, foi ministro da
Secretaria de Aviação Civil de Dilma (2014-15). Romero Jucá, ex-ministro
do Planejamento de Temer (2016) e uma das potências da República, foi
ministro da Previdência Social de Lula (2005).
Wellington Moreira Franco, secretário de um certo Programa de Parcerias e
Investimentos criado por Temer, foi chefe da Secretaria de Assuntos
Estratégicos de Dilma (2011-13) e da de Aviação Civil, também de Dilma
(2013-14). Geddel Vieira Lima, ex-ministro-chefe da Secretaria de
Governo de Temer, foi ministro da Integração Nacional de Lula
(2007-2010).
Mas o maior puxadinho é, claro, o próprio Temer, ex-vice de Dilma
durante cinco anos (2011-16) e, em duas eleições, seu colega numa chapa
que — literalmente — já foi posta para esquentar.
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