Kim Kataguiri:Folha de São Paulo
As esperadas revelações da Odebrecht começaram a aparecer. Com elas, os principais possíveis presidenciáveis foram jogados na lama. PMDB, PSDB, PT, ninguém saiu ileso. A eleição de 2018, que já seria turbulenta, tornou-se ainda mais imprevisível.
Geraldo Alckmin, tucano que, até então, estava mais confortável que seus
adversários de partido José Serra e Aécio Neves –que já haviam sido
citados em vazamentos anteriores– foi atingido em cheio. Apesar do
expressivo ganho de força do governador de São Paulo com a vitória de
João Doria, sua competitividade ficou bem abalada pelo grave depoimento
dado em acordo por executivos da Odebrecht, segundo o qual teria
recebido R$ 2 milhões em dinheiro vivo para cobrir gastos das campanhas de 2010 e 2014.
O presidente Michel Temer, cujos aliados, no início de seu mandato,
acreditavam ser um bom nome para 2018 caso colocasse a economia nos
trilhos –apesar de o próprio negar publicamente sua intenção de
concorrer–, também foi queimado pela pré-delação. Temer teria pedido repasse de R$ 10 milhões,
sendo R$ 6 milhões para Paulo Skaf, candidato do PMDB ao governo de São
Paulo, e os R$ 4 milhões restantes divididos entre Eduardo Cunha (R$ 1
milhão), Eliseu Padilha, hoje chefe da Casa Civil, e José Yunes, amigo
do presidente, para atender a interesses do partido.
Até a ex-presidente Dilma, que alguns –até da antiga oposição– ainda
acreditavam ser uma idealista absolutamente honesta, pediu, segundo
depoimento de Marcelo Odebrecht, R$ 4 milhões da empreiteira para pagar
dívidas da campanha da senadora Gleisi Hoffmann, que já é ré no STF por
corrupção e lavagem de dinheiro. O mito da guerrilheira incorruptível
caiu.
Segundo o Datafolha, que, vale lembrar, errou mais da metade das
previsões para cargos executivos no primeiro turno das eleições de 2014,
a ex-petista Marina Silva (Rede) venceria em todas as hipóteses de segundo turno em 2018.
Faz certo sentido que, de alguma maneira, Marina, com seu discurso
"metapolítico", messiânico e demagógico, tenha conseguido se vender como
uma figura que está acima "de toda essa sujeira que está aí". Porém,
campanhas eleitorais mudam completamente o jogo —como vimos nessas
eleições municipais, principalmente em São Paulo—, e aqueles que têm boa
memória ainda lembram que a maga da selva, segundo Léo Pinheiro, da
OAS, teria enviado um intermediário para pedir dinheiro à empreiteira,
mas haveria de ser pelo caixa dois porque não queria seu nome associado à
empresa. Janot pôs fim à delação de Pinheiro, e ninguém sabe até hoje
por quê.
Tudo indica que a tão esperada delação da Odebrecht deixará espaço
aberto nas eleições de 2018. Resta saber se esse espaço será ocupado por
um candidato honesto —não só legal, mas também intelectualmente–,
pragmático e com propostas sérias ou por um populista aventureiro e
aspirante a salvador da pátria.
Em tempos de histeria, temos de trazer a racionalidade ao debate. Não
foi apenas a corrupção que levou o Brasil à ruína. Há também o
autoritarismo da ditadura da propina —que vai além da corrupção como
mero fim e foi implantada pelo PT; a demagogia de prometer tudo sem se
preocupar com o orçamento; o inchaço do Estado e o corporativismo. Não
basta eleger uma pessoa honesta se ela não possuir um discurso coerente,
se ela não defender novas práticas e um novo método de governo.
Temer, Lula, Serra, Aécio, Alckmin, Marina, criticamos todos eles.
Alguns perguntam, então, se o MBL já tem um candidato à Presidência da
República. Não temos. No atual cenário –em que precisamos garantir a
continuidade da Operação Lava Jato e apoiar reformas estruturantes no
Congresso–, é muito cedo e pouco produtivo pensar nisso.
O que sabemos, com certeza, é que quem quer que venha em 2018 não pode
ser adepto das velhas práticas, de corrupção institucionalizada, do
populismo e da demagogia.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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