EDITORIAL ESTADÃO
Reconstruir
o País e abrir caminho para uma nova etapa de vigor, dinamismo e
criação de oportunidades é a grande tarefa, depois de rompido o
desastroso domínio do PT. Não basta haver encerrado a longa fase de
populismo, mentira, irresponsabilidade e pilhagem do Estado. O resgate
só será completo com a retomada do trabalho, interrompido por mais de
dez anos, de modernização das instituições, de reforma do governo e de
revalorização da seriedade e do esforço produtivo e criativo em todos os
setores de atividade – públicos e privados. Tirar da UTI a economia
nacional é o desafio mais urgente, mas o novo governo e seu sucessor
terão de levar em conta uma pauta muito mais complexa e ambiciosa.
Os
grandes temas dessa agenda serão explorados peloEstado na série A
Reconstrução do Brasil, iniciada na edição do último domingo. A reforma
política, a modernização trabalhista, a revisão das normas da
Previdência, a atualização do sistema tributário, a reavaliação das
funções do Estado e da operação do governo são temas obrigatórios de
qualquer discussão consequente sobre o futuro do País. Serão, portanto,
explorados de forma ampla e articulada nesse conjunto de reportagens.
Questões
institucionais envolvem muito mais que direitos básicos, obrigações,
forma de governo e regras de operação dos chamados Poderes da República.
Exemplo: nem todos percebem, no dia a dia, como as normas
constitucionais afetam os custos da economia brasileira e limitam – de
fato, severamente – as possibilidades de crescimento da produção e de
criação de empregos decentes e úteis.
Coleção de nobres
princípios e de bons propósitos, a Constituição de 1988, tanto na forma
original quanto depois de grande número de emendas, engessa as finanças
públicas, facilita o desperdício, dificulta o equilíbrio fiscal, cria
ambiente favorável à inflação e impõe obstáculos ao crescimento
econômico.
A chamada Constituição Cidadã estabelece direitos e
impõe obrigações ao Tesouro Nacional sem cuidar de como financiá-las.
Distribui recursos e tarefas entre os níveis de governo sem levar em
conta as proporções entre meios e fins. Consagra um sistema tributário
mal concebido e incompatível com as necessidades de uma economia aberta à
concorrência internacional.
A estrutura de impostos e
contribuições encarece o investimento e a produção e diminui a
competitividade brasileira. A reforma desse sistema já virá com muito
atraso.
A proposta de um teto para o aumento da despesa pública,
enviada ao Congresso pelo presidente Michel Temer, é só um passo inicial
para a correção de algumas dessas – para usar uma palavra suave –
inadequações. Mas a Constituição formulada com bons sentimentos e belas
intenções é só uma das fontes de problemas legais, a começar, é claro,
pelas vinculações criadas sem pragmatismo, sem visão de futuro e sem
racionalidade administrativa. Erros desse tipo se multiplicam
facilmente, quando se propõem, por exemplo, planos educacionais com
metas de despesas mínimas, como se a solução dos grandes problemas
dependesse apenas do volume de despesas – ideia contrariada pela
experiência dos países mais avançados.
Eficiência e qualidade são
pelo menos tão importantes quanto as somas destinadas aos vários
programas. De modo geral, determinam os graus de sucesso ou de
insucesso. Comparem-se, por exemplo, os gastos e os padrões educacionais
da Coreia e do Brasil.
Mas eficiência e qualidade são atributos
de ações governamentais. A incompetência e o desleixo na elaboração e na
execução de programas, no caso brasileiro, são irmãos gêmeos do
desperdício de recursos e da fragilidade fiscal. A qualidade da
administração pública tem sido um problema crônico do governo
brasileiro, atenuado ocasionalmente com ações de reforma sempre
abandonadas em pouco tempo. A ineficiência da infraestrutura, para citar
um exemplo, é componente desse quadro, assim como o baixo desempenho
dos estudantes brasileiros em testes internacionais.
Os
brasileiros têm mais uma oportunidade, agora, de atacar essas questões e
de reconstruir o País segundo modelos melhores para todos. Se for
desperdiçada, quem sabe quando surgirá a próxima?




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