REINALDO AZEVEDO FOLHA DE SP
Cartilha do PT anuncia rompimento com a democracia e tem de levar à luta armada
O
PT tem de ter a coragem de romper com o simulacro de democracia que se
vive no Brasil e optar pela luta armada. É o que evidencia uma cartilha
que escreveu. A conspiração golpista tomou tal proporção e contaminou de
tal sorte a sociedade que os puros, os justos e os éticos nada mais têm
a perder senão os grilhões. Onde será o novo Araguaia do futuro Éden?
Há
palavras que não se dizem. Há cartas que não se escrevem (imaginem se
Getúlio Vargas tivesse sido malsucedido naquele tiro...). Há cartilhas
que não se publicam. Feitas determinadas escolhas, por dever de
coerência, ou se adere ao ato extremo ou se cai, vencido, de joelhos,
aceitando o peso da espada do vencedor.
Ainda que o PT tivesse
planejado meticulosamente a sua própria destruição, o ato final não
poderia ser mais coerente. Depois de a defesa de Lula ter recorrido à
ONU (!) contra a suposta perseguição a seu cliente, o partido elaborou
uma cartilha em que falsifica a história em quatro idiomas. Ali se
denuncia ao mundo, como vai no título, uma caçada judicial ao
ex-presidente, com destaque para cinco verdugos: Sérgio Moro, Rodrigo
Janot, Gilmar Mendes, o Congresso e a imprensa.
Notaram? O
partido acusa uma conspiração a unir, na prática, os Três Poderes da
República – aproximo, no caso, o Ministério Público Federal do
Executivo, que seria ocupado por um usurpador – e aquele que se
costumava chamar, nas democracias, o "Quarto Poder".
Para que o
projeto do partido se realizasse na sua plenitude; para que suas utopias
ganhassem consequência; para que as mudanças necessárias se operassem,
forçoso seria quebrar as pernas do Congresso, que, afinal, dá um golpe
parlamentar; fazer uma limpeza no Judiciário, que aplica a lei de
maneira seletiva; pôr, como defendeu Lula, o Ministério Público "no seu
devido lugar", cassando-lhe prerrogativas, e censurar a imprensa, que
conspira contra o poder popular.
Hão de me permitir folhear a
própria obra. Em centenas de textos de "O Pais dos Petralhas I e II" e
de "Objeções de um Rottweiler Amoroso", denunciam-se as sistemáticas
tentativas do partido de encabrestar a democracia; de recorrer às
prerrogativas do próprio regime para solapá-lo; de cercear o debate nem
que seja pela força da patrulha – e nisso eles são ainda bem-sucedidos.
Tive
se enfrentar, por óbvio, a estridência dos apologistas do regime e a
desconfiança dos frouxos. Afinal, diziam estes, eu exagerava na
caracterização do autoritarismo petista e via tentações hegemônicas no
que seria nada mais do que o exercício natural da política.
Que
bom que a ópera petista chega ao último ato, com o próprio partido
chamando os inimigos por seus respectivos nomes. É o PT quem me dá
razão, não os que concordavam comigo. A sigla evidencia, assim, a sua
congênita incompatibilidade com a democracia e tira as vestes do
farsante.
Tão logo a Afastada nos brinde, numa versão desta vez
realmente ridícula dos versos da poeta Cecília Meireles, com o seu
"patético momento", é chegada a hora de o PT se apresentar às armas.
E
só vê na palavra "patético" uma ofensa, em vez de um lamento piedoso,
quem ignora o sentido mesmo da palavra, que foi parar na Sinfonia nº 6
de Tchaikovsky, tão sofrida e tão sem saída. Dilma vai falar no Senado.
Ela busca a "sombra de som curtindo o seu próprio lamento".
Depois, é tiro, porrada e bomba.
EXTRAÍDADEAVARANDABLOGSPOT
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