MATIAS SPEKTOR FOLHA DE SP
O primeiro atentado obliterou a embaixada de Israel em Buenos Aires, matando 22 pessoas. O segundo explodiu uma das principais associações judaicas da Argentina, deixando 85 mortos.
Os ataques foram perpetrados por uma rede terrorista internacional, com células no Hezbollah e nos governos da Síria e do Irã. O alvo distante, na América do Sul, foi escolhido pelos criminosos para punir Israel e para dar uma lição a Carlos Menem, presidente disposto a descumprir as promessas feitas aos países do Oriente Médio que lhe haviam financiado a campanha.
No entanto, as investigações revelaram que os ataques seriam impossíveis sem o apoio de redes locais de corrupção, presentes na agência nacional de inteligência, na polícia da província de Buenos Aires e no serviço de aduana e alfândega do governo argentino. Sobretudo, o planejamento, o financiamento e os explosivos utilizados chegaram a Buenos Aires pela mão de contrabandistas operando na área da Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai.
Quem deu a pista foi um brasileiro. Dez dias antes do maior atentado, ele avisou ao consulado argentino em Milão da tragédia iminente. Avisou também aos consulados do Brasil e de Israel. Ele sabia das coisas porque operava as redes de contrabando e extorsão na área da fronteira. Para ter êxito em seu propósito horrendo, o terror precisou de uma conexão explícita entre radicalismo islâmico global e máfias sul-americanas.
De lá para cá, todos os governos que passaram pela Casa Rosada tiveram dificuldades para jogar luz sobre o assunto e oferecer alguma verdade ao público. Talvez por isso tenham sido acusados pelas famílias das vítimas de encobrimento. Talvez por isso tenham negado ofertas de ajuda de serviços de inteligência estrangeiros.
Os ataques também expuseram ao público as entranhas do sistema de Justiça argentino. O juiz responsável pelo caso foi pego oferecendo propina a testemunhas, destruiu provas e só saiu do caminho depois de pressão incansável por parte dos familiares das vítimas. Mais recentemente, o procurador responsável por denunciar um suposto conluio entre o governo Kirchner e os mandantes do crime no Irã levou um tiro fatal no banheiro do próprio apartamento.
O terror é um mal cuja origem se encontra lá fora. Ele só progride, entretanto, quando encontra terreno fértil aqui dentro.
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