Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

ENTREVISTA À TURMA DO "VOLTEMOS À DIREITA"

 por Percival Puggina.

Se você procura por estridência e espalhafato, desista de Percival Puggina.
Nosso entrevistado de hoje é para bons paladares, que preferem uma prosa aprimorada a um estilo escandaloso.
Com precisão e objetividade, estabeleceu-se como uma das vozes mais notáveis do conservadorismo brasileiro. Dono de um olhar único para as coisas do nosso Brasil, possui o raro dom de transmitir aos leitores conclusões sólidas, elegantemente redigidas, daquilo que a maioria sequer conseguiria verbalizar.
Percival está lançando seu novo livro A TOMADA DO BRASIL PELOS MAUS BRASILEIROS e, mesmo em meio à correria do lançamento, nos concedeu a entrevista que vai a seguir, falando do novo livro e também de visões e perspectivas do Brasil atual e da Direita nacional.
Ler Percival Puggina é um prazer. Divulgá-lo, uma obrigação de todo aquele que se identifica com o pensamento de Direita e que compreende a importância da explanação das ideias conservadoras, advindas de homens cuja intelectualidade e vida pública sejam irretocáveis, como é o caso dele.
Percival, em primeiro lugar, obrigado por nos atender. O senhor é um representante importante do conservadorismo brasileiro, com inúmeros serviços prestados a esta vertente de pensamento político. Particularmente, sempre que alguém me pede indicações sobre o que ler para compreender a essência do pensamento de Direita, recomendo-o como uma das vozes mais sensatas e brilhantes do Brasil atual. Como o senhor se sente com este reconhecimento, que traz recompensas, mas também cobranças?
Eu me surpreendo com isso porque me parece, por um lado, que apenas mudo a forma e os motivos para repetir obviedades; por outro espanta-me sermos tão poucos os dedicados a essa tarefa de esclarecimento. Sem falsa modéstia, algum destaque que eu possa ter talvez só se justifique pela insuficiência do próprio trabalho que faço. Penso que não estou conseguindo mobilizar mais pessoas influentes para a tarefa de preservar e difundir nossos princípios, verdades e valores.
Fala-se muito numa “nova direita” brasileira. O senhor acredita que esse movimento é capaz de formar uma nova geração política, realmente calcada em princípios caros ao pensamento direitista, ou essa é apenas uma reação advinda do antipetismo, que terá dificuldade para se manter diante da tradição esquerdista da Academia brasileira?
A esquerda brasileira trabalhou tempo demais sem enfrentar resistência. Essa oposição no campo da cultura só surgiu com a total desmoralização do “novo céu e da nova terra” prometida pelo petismo. Até então, o Olavo e mais uns poucos malhávamos ferro frio. Se temos, hoje, um número substancial de jovens empenhados em soltar as amarras do atraso em que o país foi enrolado pelas atuais elites dirigentes, isso não significa que as velhas ideias não migrem para outras seitas políticas ainda mais à esquerda. O apito pode estar, apenas, mudando de boca. Ainda há muito caminho a percorrer para que as boas teses conservadoras e as boas teses liberais penetrem na alma nacional.
Um dos argumentos mais usados pela esquerda é afirmar que o Brasil sempre foi governado pela direita, inclusive, colocam FHC dentro dessa condição (Governo “neoliberal”). O senhor concorda com essa análise? Políticos como José Sarney, Paulo Maluf e o falecido ACM, podem ser apontados como políticos da direita?
Ser anticomunista não significa ser “de direita”. Eu me enquadro num conceito de direita que é conservadora em relação ao que tem valor permanente, que quer mudar dentro da ordem o que precisa ser mudado, que serve ao bem da pessoa humana, segundo uma antropologia cristã, democrática, que vê a liberdade como sócia bem sucedida da verdade e da responsabilidade. E que, por isso, sabe o quanto é necessário pôr freios e limites ao Estado. Nessa direita não há lugar para marxistas fabianos, companheiros de viagem de esquerdistas, nem para políticos patrimonialistas.
Caso Dilma Rousseff, mesmo diante de tantas evidências, não seja cassada, e permaneça, mesmo cambaleante, até 2018, o que isso representará para a democracia e para as instituições?
A permanência, não apenas de Dilma, mas do petismo no poder, a partir de 2005, quando os fatos do mensalão se tornam conhecidos, é uma bofetada das instituições desferida nas consciências bem formadas do país. A alma da democracia vem sendo permanentemente pisoteada e o anseio por soluções extra-constitucionais se amplia. Espero, com esperança quase metafísica, que isso sirva para convencer a maioria da população sobre algo irrefutável: vivemos sob um modelo institucional ficha-suja, esperando que ele seduza e promova a vitória eleitoral de um bom número de estadistas. A regra do jogo político determina quem senta para jogar.
O atual momento do Brasil de crise econômica, corrupção, baixa qualidade no ensino, declínio cultural, etc, pode ser entendido como uma ampliação a nível nacional, daquilo que gestões petistas fizeram em alguns Estados que governaram, como o Rio Grande do Sul, por exemplo?
Não só pode como deve. Qualquer vitória petista abre a porteira para atraso e para o jogo político mais rasteiro. Por que haveria de funcionar aqui algo que deu errado mundo afora? Vejam o que está acontecendo nos países do Foro de São Paulo.
O senhor se desfilou do partido ao qual pertencia e não está mais ligado a nenhum. Teve desilusão com a política?
Qual a pessoa bem intencionada que não teve desilusões com a política? Tive, sim. No entanto, minha desfiliação do PP, há dois anos, foi motivada pelo vencimento do prazo de validade do meu próprio entusiasmo com a via partidária e pela crescente convicção de que o trabalho mais importante a fazer é a formação da consciência política num sentido amplo, abrangendo o maior número possível de pessoas. Para essa atividade, a filiação, qualquer filiação partidária, iria atrapalhar. Fico mais livre e suscito mais atenção se as pessoas percebem que não tenho qualquer ambição pessoal naquilo que faço, digo ou escrevo.
Uma grande notícia para os que acompanham o seu trabalho é o lançamento de A TOMADA DO BRASIL PELOS MAUS BRASILEIROS, que compreende uma seleção de artigos do senhor, escritos nos últimos 4 anos. Qual a sensação de estender a um público ainda maior as constatações feitas em tempo real sobre um período tão importante da história recente do Brasil?
Esse livro atende a um pedido de muitos leitores. Eles observaram algo que todo colunista sabe. A coluna do jornal, a crônica do blog, uma vez lida, some nas pilhas dos jornais velhos e nos arquivos do PC. Eu os meus editores consideramos conveniente que ao menos alguns textos destes últimos quatro anos pudessem estar nas prateleiras, ao alcance da mão dos leitores… Na minha opinião, bem organizado e bem editado, produziu-se um livro bom de ler. Mas sou suspeito para dizê-lo. Então, considere não dito.
Tendo analisado a “Tomada do Brasil pelos maus brasileiros”, o senhor considera possível, num futuro próximo, a retomada do Brasil pelos bons brasileiros?
Quando você aponta para algo ou alguém e diz que há, nesse algo ou nesse alguém, um erro, um mal, um engano ou falsidade, você está, simultaneamente, sinalizando o certo, o bem, o correto e o verdadeiro. Não creio que haja qualquer texto nesse livro em que as indicações positivas não estejam explicitadas ou não possam ser deduzidas pelos leitores. Sim, eu acredito na retomada, mas ela só produzirá as consequências desejadas se um novo arranjo estabelecer racionalidade às nossas instituições. Com esse presidencialismo de corrupção, de negócios, de ocupação de todos os espaços por um partido político (qualquer que ele seja), não tem jeito. Pode ficar menos pior, mas não é só isso que devemos almejar, não é mesmo?
Quais defeitos o senhor percebe na direita brasileira?
Pois eu penso que essa pergunta está respondida acima. A direita, salvo grande engano meu, crê que tudo se resolve com a simples substituição das pessoas no poder. Ninguém parece disposto a afirmar que, além disso, é preciso mudar, também, o modo como o poder se organiza.
“A retomada do Brasil pelos bons brasileiros” pode ser o título do seu próximo lançamento? (Risos). Podemos ficar na expectativa de novas surpresas como o foi sua recente obra?
Eu pretendo lançar, até meados do ano que vem uma nova edição ampliada e atualizada de “Cuba – A tragédia da utopia”, um livro meu de 2004, totalmente esgotado. Estou nos últimos capítulos.







extraídadepuggina.org

0 comments:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More