por Dora Kramer O Estado de São Paulo
Não há a menor chance de dar certo o acerto que a presidente Dilma
Rousseff tenta fechar com o escalão inferior do PMDB na base da entrega
de ministérios em troca de apoio no Congresso.
É
o tipo da árvore que nasce torta e, portanto, morrerá torta. Dilma
escolheu para liderar a tropa em sua defesa justamente o batalhão que
mais lutou contra ela na campanha da reeleição: a seção regional do
partido no Rio de Janeiro.
O
interlocutor da presidente, Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara,
é filho de Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio e
comandante do movimento que pregava voto em Aécio Neves e o rompimento
da aliança com o PT já no ano passado.
Esse
grupo que não queria ver Dilma reeleita é o mesmo que hoje está à
frente da negociação de ministérios com a presidente. “Negociação” é
maneira de dizer. O termo correto é chantagem. O impasse que fez
suspender o anúncio oficial do troca-troca deu-se pela ameaça do líder
Picciani de retirar os nomes que indicara - e com isso deixar Dilma só -
caso as nomeações não sejam feitas nos termos exigidos.
Basicamente
quer a pasta da Saúde e ver o atual ministro da Aviação, Eliseu
Padilha, fora do governo. Dilma ficaria, neste caso, em situação
difícil, pois a demissão de Padilha pareceria um gesto hostil ao
vice-presidente, Michel Temer, a quem o ministro é ligado.
Por
trás da aproximação de Picciani com o governo estão dois movimentos:
ele próprio se fortalecer para ser reconduzido à liderança do partido na
Câmara e buscar o enfraquecimento do grupo de Temer, onde estão os
oposicionistas mais convictos, para mais adiante tentar tomar o controle
do PMDB. Sonho antigo da seção do Rio, ex-governador Sérgio Cabral à
frente.
Trata-se
de um mero negócio em que só um lado leva vantagem. Leonardo Picciani
não tem prestígio nem força para entregar o apoio prometido ao governo.
Praticamente um novato no Parlamento, conseguiu se eleger líder da
bancada com a ajuda de Eduardo Cunha e, assim mesmo, ganhou por apenas
um voto de diferença.
Na
verdade, nem parece muito preocupado em cumprir o prometido. Ou não
teria sugerido que a pasta dos Portos, hoje ocupada por Helder Barbalho,
filho do senador Jader Barbalho, fosse entregue ao deputado José
Priante, primo e adversário político de Jader. Se aceita a proposta, dos
quatro deputados do PMDB do Pará, Dilma perderia o voto dos três
ligados ao senador.
Conviria
à presidente se informar sobre a reação que já se arma no PMDB. O
vice-presidente por motivos óbvios não criará atritos, mas outras
lideranças farão o contra-ataque. O ex-ministro Geddel Vieira Lima,
opositor do governo e influente no partido, avisa que o discurso dos
oposicionistas do PMDB tenderá daqui em diante a ficar cada vez mais
radical.
“A
presidente lamentavelmente se entrega a esse jogo degradante, mas nós
não podemos deixar o partido todo se desmoralizar por causa de meia
dúzia de mercenários”, radicaliza.
Último tango. A
senadora Marta Suplicy, que ontem se filiou ao PMDB, não falou mais com
Lula desde a decisão de deixar o PT. Mas, nesse meio tempo, recebeu
dele um recado: “Você estava certa”, comunicou o mensageiro.
Referia-se
à conversa que Marta teve com ele no ano passado, quando mais uma vez
tentou convencê-lo a concorrer à Presidência. Entre outros argumentos,
ponderou ao ex-presidente que, se reeleita, Dilma iria “transformar o
Brasil numa Argentina”.
extraídaderota2014blogspot
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