por Ruy Castro Folha de São Paulo
Foi o pior aniversário de Lula desde os tempos em que, de calça curta e
dedo no nariz em sua Garanhuns (PE) natal, ele torcia pelo Vasco e
matava aula para caçar calango. Com um agravante: hoje, aos 70 anos,
Lula deve ter menos amigos para lhe soprar velinhas do que aos 10, em
1955.
Em compensação, ninguém tem uma lista mais ilustre de ex-amigos, vivos
ou mortos: Hélio Bicudo, Chico de Oliveira, Cristovam Buarque, Fernando
Gabeira, Vladimir Palmeira, Plínio de Arruda Sampaio, Marina Silva(?), Erundina Silva(?), Chico Alencar(?),
Cesar Benjamin, Francisco Weffort, Paulo de Tarso Venceslau, Beth
Mendes, Airton Soares. Juntar esse time a seu favor foi uma façanha;
fazê-lo desertar em massa, outra. Sem contar os que, por terem se
tornado cadáveres políticos, ele abandonou, como José Dirceu.
Em lugar deles, Lula poderia ter convidado para sua festa os
empreiteiros, banqueiros e pecuaristas com quem se dá tão bem. Mas boa
parte estava impedida de comparecer, por cumprir temporada em Curitiba
ou estar reunindo ou apagando documentos. É compreensível também que,
subitamente, muitos não queiram ser vistos ao seu lado. O jeito, para
fazer quorum, seria Lula convidar antigos aliados, como Sarney, Collor,
Maluf –mas estes bem sabem quando e com quem devem se aliar.
Diante dessa evasão humana, só restou a Lula passar o aniversário com
seus filhos, noras, sobrinhos e irmãos, com a recomendação de que eles
não levassem os amigos, os quais, por coincidência, têm estreitos laços
comerciais entre si e com órgãos da administração pública. Devido a esse
caráter de festa íntima, não fazia sentido fechar um restaurante de
luxo ou mesmo uma churrascaria –o feudo do Instituto Lula era
suficiente.
E quem esteve lá pode ter presenciado um fato histórico: a última vez que Dilma e Lula foram vistos juntos.
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