por Celso Rocha de Barros Folha de São Paulo
Neste momento de nossa história, um grupo político tenta desestabilizar o
governo de uma presidente democraticamente eleita. Seus membros são,
muitas vezes, bem intencionados; mas seu fervor ideológico os torna
incapazes de medir o quanto suas ações podem agravar uma crise que já é
profunda. Culpam o governo atual por todos os problemas, como se não
tivessem feito suas próprias barbeiragens quando estiveram no comando do
país.
O parágrafo anterior poderia ser sobre parte da oposição, mas é sobre os críticos de Levy no PT.
Já que em 2015 não é possível contar com a responsabilidade de ninguém,
ao menos deveríamos poder contar com o instinto de sobrevivência do
Partido dos Trabalhadores. Os petistas que vazam ruídos anti-Levy para a
imprensa desconhecem que só o PMDB sabe ser governo e oposição ao mesmo
tempo. O fim do ajuste seria o fim do governo Dilma, e não é possível
que alguém no PT ache que conseguiria se dissociar desse fracasso.
Sim, o ajuste é terrível para os petistas, que podem perder apoios nos
sindicatos e em outros movimentos sociais. Haverá um custo eleitoral. E
não é só questão de interesse: a militância, que não tem cargo nenhum,
critica o ajuste por motivos puramente sinceros, por ver seus efeitos na
taxa de desemprego e nas negociações salariais.
Mas a crise fiscal é real. Houve anos excepcionalmente bons de
arrecadação que não devem voltar tão cedo. As desonerações não
produziram os resultados esperados. Há problemas de longo prazo
relacionados ao gasto público. O cenário internacional não parece
favorável. Não há apenas uma solução possível para os problemas
brasileiros, mas todas as soluções não-imaginárias dependem de
reequilibrar as contas. Levy está tentando fazer isso, Levy está certo, e
Dilma está certa em apoiá-lo.
A ideia de que seria possível derrubar Levy e lançar um grande programa
de estímulos estatais à economia é equivalente a achar que agora que o
craque do time está machucado e o capitão está suspenso deve ser uma boa
hora para partir para cima da Alemanha.
O esforço de combate à crise foi mantido por tempo demais, e o Estado está exausto. Se Levy cai hoje, amanhã os indicadores econômicos entram na fase "quatro gols em seis minutos". Admiro a autoestima de quem acha que teria um plano para virar esse jogo, mas o mais provável é que só nos restasse a carta da Dona Lúcia.
Tem toda razão quem critica o ajuste por não distribuir uma parte maior do sacrifício para quem pode pagar mais. Mas só pode
fazer essa crítica com consistência quem defendeu que o ajuste fosse feito antes, quando Dilma tinha a aprovação de dois terços da população. O ajuste terá a cara de quem estiver por cima quando ele for feito. Se tivesse sido realizado em 2013, seria mais parecido com o PT; já que o adiamos até agora, aceitemos que será mais parecido com a atual legislatura.
É a hora do PT provar que tem mesmo mais estrutura que os outros
partidos brasileiros. Se tiver, aguentará a surra, corrigirá seu curso, e
saberá escolher uma estratégia eleitoral que minimize suas perdas. Para
os petistas, aceitar Levy é um compromisso. Mas, ao contrário dos
outros compromissos feitos no Brasil em 2015, tem como objetivo deixar
os cofres públicos mais cheios.
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário