EDITORIAL O GLOBO
Por trás dos números há o apadrinhamento político e ideológico
Gráfico com a evolução das despesas do Executivo com pessoal - Editoria de Arte
O
Brasil sempre aparece mal colocado em rankings que avaliam a capacidade
de países abrigarem empresas, estimularem seu crescimento e o
empreendedorismo em geral. No mais conhecido deles, o “Doing Business”,
do Banco Mundial, o ambiente de negócios do país estava, na última
versão do relatório, apenas em 120º lugar. Uma discrepância diante do
tamanho da economia brasileira, uma das dez maiores do mundo. Esses
levantamentos, feitos junto a empresários e executivos, avaliam diversos
aspectos que afetam a vida das empresas e de suas populações, como
carga tributária, qualidade das instituições etc. E um dos problemas que
mais pesam negativamente para o Brasil é a espessa burocracia que
inferniza a vida de pessoas físicas e jurídicas. No caso das empresas,
ela aflige acionistas e administradores não apenas com o pagamento de
inúmeros impostos, taxas e similares, mas com o enorme trabalho que é
manejar guias de recolhimento, mantê-las em dia e devidamente
arquivadas, até porque sempre o ônus da prova cabe ao contribuinte.
Número de servidores com cargos comissionados cresceu 30% em 13 anos - Editoria de arte
Um
dado ilustrativo: segundo o “Doing Business”, empresas de São Paulo
consomem, em média, 2.600 horas por ano para recolher impostos, contra
apenas 365 horas na América Latina como um todo. Dados como este não
surgem por acaso. Há por trás de cada via-crúcis burocrática um enorme
aparato estatal, de tempos em tempos cevado com mais verbas bilionárias,
mais cargos. E nisso os últimos 12 anos de hegemonia do PT em Brasília
foram pródigos.
Basta consultar os gráficos nesta página para
constatar-se o avanço do contingente de servidores no Executivo federal.
Até 2013, eram 1.952 mil, ou 13,3% mais que os 1.722 mil servidores
lotados na máquina do Executivo, em 2002, último ano de FH no Planalto,
incluindo os aposentados.
Os sinais do inchaço da máquina com
Lula e Dilma, a partir de 2003, são mais visíveis na distribuição de
cargos ditos de confiança. Eles eram aproximadamente 66 mil em 2002 e
chegaram a 100.313 em julho deste ano, um crescimento robusto de 52%.
Por
trás dos números há o apadrinhamento político e ideológico. É um
termômetro fiel do aparelhamento, mesmo com servidores concursados, pois
não se pode achar que inexistam militantes petistas entre eles, e que
estes não tenham prioridade no recebimento de “adicionais por cargo”.
Não
falta espaço na máquina burocrática. Só esses cargos, designados por
indecifráveis siglas, são 41. Entre eles, o mais ambicionado é o DAS
(Direção e Assessoramento Superior), o destaque nesta sopa de letras.
Mas também é possível, se bem apadrinhado, a pessoa acumular adicionais
até chegar a, por exemplo, R$ 152.220,97, caso da remuneração total de
um funcionário da estatal Eletronorte, mostrado em reportagem do GLOBO.
Os
defensores do mastodôntico Estado brasileiro costumam argumentar que a
folha dos servidores se mantém estável no nível de 4% do PIB. Mas a
questão, aqui, é menos este número isolado e mais analisá-lo “por
dentro”, saber se os servidores estão alocados da melhor forma para
atender a população, se os salários pagos são compatíveis com a
produtividade do funcionário. Ou se a máquina se move por si mesma,
impulsionada pela lógica da burocracia, por seus interesses específicos e
de aliados políticos de ocasião. Um milhão de funcionários ativos do
Executivo receberão este ano mais de R$ 100 bilhões, ou três Bolsas
Família, um aumento real (acima da inflação) superior a 55%, desde 2002.
Além de tudo, este monstruoso aparato gera mais burocracia. Segundo o
Instituto Brasileiro de Planejamento, a máquina produz 520 novos
regulamentos por dia.
E tudo somado, o Estado consome 40% do PIB,
e ainda precisa pedir dinheiro emprestado. É muito, principalmente
quando se avaliam estes índices e cifras por meio da qualidade dos
serviços prestados à população. Uma exorbitância, também se analisarmos
pela ótica de quem padece com a burocracia pública.
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