EDITORIAL O GLOBO
Sexta-feira lembrou os tempos dos pacotes econômicos, quando o último dia útil da semana era varrido por boatos sobre mudanças de política. Desta vez, foi o futuro do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Sob ataque do PT e do próprio ex-presidente Lula, não é a primeira vez que Levy é tido como demissionário. Até carta de demissão ele já teria redigido para entregar pessoalmente a Dilma, antes de a presidente embarcar para a Europa.
O encontro com Dilma houve, mas com a Junta Orçamentária do governo, da qual fazem parte, além de Levy, os ministros Jaques Wagner, chefe da Casa Civil, e Nelson Barbosa, do Planejamento. Joaquim Levy continua, e a presidente aproveitou perguntas feitas a ela já na Suécia sobre o ministro não só para confirmá-lo, como fazer uma demarcação de território entre seu governo e o PT, algo novo na relação entre Dilma e partido.
No domingo, em entrevista à “Folha de S.Paulo”, o presidente do PT, Rui Falcão, reforçou a campanha lulopetista contra Levy e o ajuste fiscal, de forma imperativa: “Se Levy não quiser seguir a orientação da presidente, deve ser substituído”
Entenda-se por “seguir a orientação” liberar o crédito e cortar os juros, estes da seara de Alexandre Tombini, do BC. Tudo o que não é recomendável, e está nas raízes da crise.
— Eu acho que o presidente do PT pode ter a opinião que ele quiser, algo que não é a opinião do governo — rebateu Dilma, num momento em que as expectativas diante da economia se degradam ainda mais, em função do aprofundamento da crise política e da inapetência do governo em lutar por um ajuste fiscal efetivo e benigno, sem aumento de impostos.
Importa que, para ir além das palavras no apoio a um Levy transformado em saco de pancadas do lulopetismo, a presidente terá de ser bem mais ativa no trabalho pelo ajuste. E deixar de resumi-lo à ressurreição da CPMF, imposto de péssima qualidade, por atingir toda a cadeia produtiva, de forma cumulativa, e quando a carga tributária já se encontra nas alturas (36%/37% do PIB).
De muito difícil trânsito no Congresso, a CPMF precisa ser substituída por um corte real de despesas, nas contas governamentais em busca de um superávit primário de 0,7% do PIB, em 2016.
Reportagem do GLOBO de ontem sobre a caixa-preta da folha do funcionalismo confirma que nela há muita margem para o Planalto começar a compensar o não relançamento da CPMF — e respeitando a estabilidade dos servidores.
Por exemplo, havia em julho 100.313 cargos ditos de confiança no Executivo, 51% mais que os 66.040 existentes em 2000, ainda com FH. Numa folha que ultrapassará este ano os R$ 100 bilhões (três CPMFs), há incontáveis aberrações. Uma delas, a acumulação de gratificações que compõem salários acima de R$ 150 mil mensais.
Cortar 3 mil destes cargos, como prometido pelo Planalto, é algo modesto. Dilma, para ser coerente com a defesa da permanência de Levy, precisa agir. Muito pode ser feito.
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