Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Ação ou inação igual a rejeição

Carlos Chagas


Nem impeachment de Dilma nem cassação de Eduardo Cunha. Ambos manterão seus mandatos. Essa previsão é a pior que poderia ser feita, pois a rejeição nacional atinge os dois. A presidente da República não pode mais deixar seus palácios nem dirigir-se à população pela TV, com risco de vaias, agressões verbais e panelaços. Fora inaugurações bissextas onde claques contratadas substituem participantes espontâneos, e além dos passeios matinais de bicicleta, cercada por seguranças, Madame parece habitar outro planeta.
Quanto ao presidente da Câmara, até no Salão Verde obriga-se a transitar blindado de permanente guarda pessoal encarregada de afastar grupos hostis, até mesmo de deputados oposicionistas. Nem Cunha nem Dilma aproveitam as naturais benesses do poder concedidas em tempos normais pela popularidade  inerente às suas funções. São proscritos. Presos em gaiolas de ouro, até de cantar estão proibidos.
A indagação é se o exercício da função pública vale tanto. Manter afastada a sociedade em vez de integrar-se nela exprime a maior das contradições a que são obrigados para preservar a própria sobrevivência, senão política, que já não existe, ao menos a física. Tudo ao redor deles é artificial. Estão colhendo o que plantaram. Num exemplo: por antecipação, sofrem com o comparecimento à inauguração e ao encerramento das Olimpíadas do próximo ano. E a qualquer outra festa popular, religiosa ou patriótica. Comparecer a comícios, andar pelas ruas, frequentar restaurantes ou olhar o comércio, nem pensar.
A REJEIÇÃO
Este longo preâmbulo se faz a propósito das incertezas da prática política. Não faz muito, apenas um ano, Dilma era reeleita com 35 milhões de votos, aplaudida onde aparecesse. Cunha entrava sob palmas e exortações de apoio toda vez que assumia a presidência das sessões da Câmara. O diabo, no caso do deputado, é que há muito já era o vigarista especializado em negócios escusos, assaltos à Petrobras e aplicação de dezenas de milhões em contas secretas na Suíça. Quanto à presidente da República, quem duvida de que desde o primeiro mandato sabia e tolerava a roubalheira incrustada ao seu redor?
Tanto faz se pela ação dele ou pela inação dela o país mergulhou no despenhadeiro. A rejeição atingiu os dois. Aliás, atinge muito mais gente.






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