editorial do Estadão
Os Correios já foram uma das estatais mais admiradas, pela qualidade e
capilaridade dos seus serviços. Era um símbolo inequívoco da unidade do
País, aproximando a sua população, do Oiapoque ao Chuí. Mas o
aparelhamento promovido pelo PT na última década desfez esse símbolo e a
cada dia reescreve a história da estatal, transformando-a num mero cabo
eleitoral. O episódio mais recente dessa triste história é um vídeo
obtido com exclusividade pelo Estado,
no qual o deputado estadual mineiro Durval Ângelo (PT) expressa
satisfação e orgulho pelos bons serviços prestados pelos Correios à
campanha petista em Minas Gerais, pelo apoio tanto à candidata à
reeleição Dilma Rousseff como ao candidato a governador Fernando
Pimentel.
O conhecido aparelhamento da administração pública promovido pelo PT
recebeu nova prova - histórica -, agora em vídeo. Uma prova que não pode
ser negada nem contestada. O vídeo em questão é similar aos vídeos -
infelizmente, bastante conhecidos dos brasileiros - que flagram um
corrupto recebendo, por exemplo, uma mala de dinheiro. No caso dos
Correios, é a prova incontestável do uso de uma empresa estatal - que
deveria servir ao público - em benefício de um partido.
Na reunião gravada, tudo é dito abertamente, sem qualquer escrúpulo, sem
qualquer pudor. Diz o deputado petista: "Se hoje nós temos a
capilaridade da campanha do (Fernando) Pimentel e da Dilma em toda Minas
Gerais, isso é graças a essa equipe dos Correios".
Para que não pairasse dúvida do grau de importância da reunião, o
próprio presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, está lá presente, como
testemunha do aparelhamento. Da mesma forma que um presidente de uma
empresa privada ouve dos seus gerentes os bons resultados operacionais
da empresa, Wagner Pinheiro ouve de Durval Ângelo os bons resultados da
ação dos Correios em prol das campanhas de Dilma e de Fernando Pimentel
no Estado de Minas Gerais. "Se hoje nós estamos com 40% em Minas Gerais,
tem dedo forte dos petistas dos Correios", diz Durval, acintosamente.
Diante da revelação feita pelo Estado,
o presidente dos Correios emitiu uma nota na qual afirma que "os
Correios não estão contribuindo com a campanha de qualquer candidato".
Justifica-se dizendo que "a reunião não ocorreu durante o expediente e a
empresa não custeou despesas relacionadas a ela". É como dizer que um
deputado não recebeu propina como deputado porque não era no seu horário
de trabalho.
No vídeo, o deputado pede a Pinheiro que faça a direção nacional do PT
saber dos bons serviços prestados pela estatal. "Queremos que você leve à
direção nacional do PT, que eu também faço parte do diretório, mas
também à direção nacional da campanha da Dilma a grande contribuição que
os Correios estão fazendo". O vídeo explicita assim não apenas o
aparelhamento, mas como é feita a coordenação do aparelhamento e como o
PT não brinca no poder. Instala-se e cobra resultados - e os camaradas
têm grande zelo em mostrar os resultados obtidos. Que não fique nas
sombras o empenho deles no aparelhamento.
Durval não podia ser mais explícito: "No dia da reunião que tivemos no
hotel (da qual participou Pimentel), o Helvécio Magalhães (coordenador
da campanha do petista) falou: vou me reunir com a equipe ainda esta
semana e liberar a infraestrutura. E se hoje nós temos a capilaridade da
campanha do Pimentel e da Dilma em toda Minas Gerais, isso é graças a
essa equipe dos Correios". Diante da repercussão do caso, Durval
explicou que "liberar a infraestrutura" era uma referência a
funcionários petistas dos Correios que pediam férias para fazer
campanha. O vídeo mostra o contrário: o uso da máquina pública, e não do
tempo livre privado, para fazer campanha.
O que se vê no vídeo é uma espécie de sentimento do dever cumprido. Mas o
parlamentar petista alerta: aquilo ainda não era uma prestação de
contas completa. Esta virá após a eleição de Dilma e Pimentel, na qual -
pelas suas palavras - a estatal está fortemente empenhada. É o
aparelhamento sem pudor e sem escrúpulos.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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