Sei
que a liberdade de imprensa é fundamental, mas é exatamente esta que
invoco para mostrar a idiotice, senão a má intenção, dos comentários da
mídia sobre o assunto.
Uma amiga católica falou-me que as especulações jornalísticas sobre a renúncia do Papa Bento XVI e o próximo Conclave soavam como invasão de sua vida, assim como se alguém se sentisse no direito de entrar em sua casa e determinar onde e como deveriam ser guardadas sua louça, suas roupas e jóias.
Dei toda razão a ela. Com exceção dos comunicados oficiais do Vaticano e de comentários como os do Padre Paulo Ricardo Azevedo, Percival Puggina, Hermes Rodrigues Nery, Timothy George (Benedict XVI, the Great Augustinian) e outros católicos interessados no bem da Igreja, a maioria dos comentários que tenho lido são de papalvos (1) que se metem onde não foram chamados e falam sobre o que não entendem e nem lhes interessa. Estranho é que para a mídia amestrada a Igreja é uma estrutura arcaica que não interessa mais. Basta um Papa renunciar e é um ‘Deus nos acuda’, um rebuliço, não se fala noutra coisa!
É próprio dos papalvos se darem ares de entendidos e com ‘fontes seguras’ que não podem citar. A maioria deles publica idéias frutos de suas próprias elucubrações como se fossem oriundas de ‘fontes internas do Vaticano’ e entrevistas em off para se mostrarem melhor informados do que a média dos seus leitores. Se der certo, por chute, esperam se tornar eminentes ‘formadores de opinião’, se der errado ninguém lembrará mesmo de suas patacoadas!
Isto se tornou claríssimo, por exemplo, nas teorias sobre a renúncia de Bento XVI: foi ‘pressão’, foi a finalização de ‘acordos secretos’ na Cúria, foi para ‘esconder os casos de pedofilia’ ou, alternativamente, ‘porque exigiam que abrisse os casos de padres pedófilos’, e assim vai. Ninguém se interessa pelo que disse o próprio Papa. Ou, como diz Timothy George (op.cit.): tal como Santo Agostinho, o Papa resolveu retirar-se para uma vida de contemplação e oração. Sua dissertação de doutorado foi sobre ‘O Povo e a Casa de Deus na Doutrina de Agostinho sobre a Igreja’.
Sei que a liberdade de imprensa é fundamental, mas é exatamente esta que invoco para mostrar a idiotice, senão a má intenção, dos comentários da mídia sobre o assunto. Não sou católico, mas como tenho deixado sempre claro, considero que a Igreja Católica com suas raízes no judaísmo representa o eixo em torno do qual se desenvolve a civilização ocidental com suas noções de defesa da vida desde a concepção, da liberdade individual, justiça e amor ao próximo. Como não católico não me sinto autorizado por minha própria consciência para me imiscuir em assuntos de uma instituição que constantemente atacada, vilipendiada e perseguida, já dura mais de 2 mil anos. Posso no máximo desejar intimamente que ela permaneça fiel ao seu Fundador e conserve intactos Seus Mandamentos. Posso também desejar que a Igreja não se adapte aos ‘novos tempos’, pois estes tempos não são novos, senão que são tão antigos como a humanidade apresentados sob uma capa enganosa de novidade. Não passam da ação no mundo dos maiores inimigos da Igreja, como foram em todos os tempos.
Não há ‘dilema entre a defesa da moralidade e ousadia para renovação’: esta é uma observação malévola dos que criticam a defesa das normas que mantém a humanidade razoavelmente bem organizada há séculos. Estranho é que estes são os primeiros a criticar a ‘falta de moralidade’ da Igreja quando falam dos ‘padres pedófilos’, quando as estatísticas comprovam que menos de que 3% dos atos de pedofilia ocorrem na Igreja. A grande maioria ocorre no seio das próprias famílias: são pais, tios e avós que abusam das crianças em seu próprio lar.
Acusam o Vaticano de ter ‘muita instituição e pouca religião’. Mas o catolicismo é uma religião instituída por Jesus Cristo! Qual a contradição entre instituição e religião? Nenhuma para os católicos, mas qualquer um, ateus, pagãos, e seguidores de outras religiões se sentem autorizados a meter o bedelho em tudo que se refere ao catolicismo.
Ai de quem criticar as seitas afro, como a umbanda ou o candomblé! Imediatamente será acusado de ‘preconceituoso’. Ai de quem sequer disser alguma coisa sobre o Corão! Será condenado e alvo de uma fatwã! Ai de quem fizer qualquer crítica aos judeus: é logo tachado de anti-semita. Mas a Igreja Católica não: é como um leito de Procusto (2) onde deve caber tudo que todos desejarem – seguidores de outras religiões, ateus, pagãos, politeístas e católicos ‘progressistas’ (3) – mesmo que para isto sejam mutilados conceitos básicos - e ‘esticadas’ as noções morais para caberem as exigências dos ‘novos tempos’: o aborto e a eutanásia, a imposição do movimento gay com os ‘casamentos’ entre quaisquer coisas, o fim do celibato, etc. A lista não tem fim.
Felizmente, creio que a Igreja também não, e sobreviverá, como sempre o fez, a mais esses ataques.
Notas:
[1] Papalvo: parvo, pateta, boboca, cretino. Indivíduo que se deixa enganar facilmente.
[2] Procusto era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, ele tinha uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho, para a qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Uma vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho da cama porque Procrusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos diferentes.
[3] Estes são os piores, pois se travestem de fiéis para atacar a instituição por dentro, como sugeria Gramsci.
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