editorial de O Globo
Mas, antes de tudo, costuma ser déficit. Contas públicas gravemente
desequilibradas, como não há registro na história, caíram sobre o
governo do vice Michel Temer, cuja competente equipe econômica evitou a
debacle, que seria acompanhada de recessão e disparada da inflação.
Devido a fragilidades éticas do presidente, um razoável e imprescindível
projeto de reforma da Previdência não avançou no Congresso.
Resta ao governo Bolsonaro fazer o serviço, para dar um horizonte de
crescimento ao país e esperanças a ainda 12 milhões de desempregados.
Pois é preciso acelerar o crescimento, daí ser estratégico desatar o nó
fiscal: uma Previdência há tempos inadequada ao padrão demográfico de um
país cuja população jovem começa a decrescer; mecanismos de indexação
de despesas e um Orçamento quase 100% engessado por vinculações.
Isso indica que, se a reforma da Previdência é vital, também há um
trabalho a ser feito paralelamente, a fim de conter fontes de gastos que
funcionam de forma autônoma. O que pode ser executado por meio de
mudanças de legislações infraconstitucionais, sem necessidade do quórum
qualificado exigido por mudanças constitucionais. Mais fácil de
executar, e nem por isso pouco importante.
No domingo, O GLOBO revelou que a equipe do ministro Paulo Guedes estuda
três dessas alterações, de grande ajuda ao equilíbrio das contas.
Somadas às estimativas do que poderá ser poupado com a reforma da
Previdência, até 2022, seriam economizados aproximadamente R$ 266
bilhões no período, uma grande contribuição à estabilização da economia.
Essas reformas além da Previdência são imprescindíveis, dado o tamanho
do rombo fiscal. Estima-se que o ajuste terá de ser equivalente a 5% do
PIB, mais que os superávits alcançados nas gestões FH e Lula, que
contiveram o crescimento relativo da dívida. A grande diferença, porém, é
que, no passado, os saldos positivos foram alcançados basicamente por
aumento de impostos, a fim de elevar a arrecadação. Esta via se esgotou,
porque fez a carga tributária chegar à faixa dos 33% do PIB, muito
acima dos 27% da média das economias emergentes.
Por isso, a equipe econômica estuda mudanças na fórmula de cálculo do
salário mínimo — que vence este ano —, para impedir aumentos reais
descolados da produtividade da economia; postergar reajustes dos
servidores, cuja folha é o segundo item mais pesado no Orçamento; e
rever parâmetros muito benevolentes do abono salarial.
Não há alternativa a não ser podar excessos. O Brasil virou um ponto fora curva.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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