editorial do Estadão
“Máquina de ineficiência e corrupção” foi como o secretário de
Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, Salim
Mattar, se referiu à estatal Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
(Correios), cuja privatização defendeu com veemência.
A expressão poderia ser aplicada a outras empresas ainda controladas
pelo poder público federal e que, a depender do governo do presidente
Jair Bolsonaro - e do secretário de Desestatização, em particular -, com
raríssimas exceções, terão seu controle transferido para o setor
privado.
Exemplos recentes, como os crimes investigados pela Operação Lava Jato
no relacionamento de dirigentes dessas empresas e outros agentes
públicos com representantes do setor privado, não deixam dúvida sobre o
péssimo uso que governantes fizeram das estatais em benefício próprio ou
de seus apadrinhados.
Só isso bastaria para justificar a necessidade de limpar o governo, em
todos os níveis, dessa fonte de desvio de recursos públicos para o
enriquecimento de um grupo de criminosos. Mas há outras razões para a
privatização de empresas estatais, talvez tão fortes do ponto
administrativo e financeiro quanto o combate à corrupção.
Livrar o setor público de empresas estatais que cresceram demais,
sobretudo em termos de pessoal e de campo de atuação, é retirar dos
contribuintes a obrigação de manter estruturas pesadas e caras. Para o
governo, a privatização representa grande alívio financeiro, pois a
maioria das estatais é deficitária. Isso assegura mais recursos para
áreas essenciais, como educação, saúde e segurança, e dá maior
eficiência à atuação do poder público.
O Brasil se perdeu com o número de estatais que foram sendo criadas ao
longo dos últimos anos, observou o secretário de Desestatização, para
observar que o País precisa fazer um mea culpa,
porque todos foram coniventes com a política estatista que durou
décadas - e foi reforçada na gestão lulopetista. Desde a década de 1990,
no governo Fernando Henrique Cardoso, o número de estatais vinha sendo
reduzido por meio de programas de privatização. Mas, na era lulopetista,
como lembrou Mattar, foram criadas 48 estatais. No governo de Michel
Temer, 20 empresas foram privatizadas.
O quadro ainda mostra forte presença do Estado na economia. Continuam em
operação 134 empresas estatais federais, que empregam cerca de 500 mil
funcionários. Dessas, 18 são chamadas de “estatais dependentes”, pois
não geram recursos próprios suficientes para sustentar suas atividades -
e por isso dependem do Tesouro -, e custam R$ 15 bilhões por ano ao
governo. Atuam em áreas que, em geral, o governo não deveria ter
participação.
Mattar lembrou, durante evento organizado por uma instituição financeira
em São Paulo, que não há explicação para o fato de o governo ter
participação na fabricação de chips de orelha de gado, em empresas de
tecnologia, de refino de petróleo ou de seguro e na atividade de
correio. “O governo não pode continuar sendo empresário, mas precisa
cuidar de coisas que fazem sentido para a população, como saúde e
educação”, disse, para completar: “Queremos o povo rico e o Estado mais
enxuto”.
A venda de todas as estatais poderia reduzir a dívida pública federal em
cerca de R$ 3 trilhões, estima o secretário de Desestatização. Com
realismo, porém, ele considera que uma de suas tarefas é convencer os
Ministérios aos quais estão vinculadas as estatais da necessidade de
vendê-las, em nome da redução da estrutura do Estado, do reconhecimento
do papel da iniciativa privada e da busca de maior eficiência do setor
público e da economia brasileira em geral.
Mattar disse que Petrobrás, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil
devem ser as únicas a permanecer como estatais - mas “bem magrinhas” - e
citou a Eletrobrás entre as primeiras a serem privatizadas, o que
provocou boa reação dos aplicadores em ações.
Ele também observou que o BNDESPar, braço do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social para participação no capital de
empresas privadas, precisa ser liquidado com rapidez, por meio de venda
das ações que possui. Segundo Mattar, os ativos do BNDESPar somam R$ 110
bilhões. Eles incluem, por exemplo, ações da JBS, a empresa dos irmãos
Joesley e Wesley Batista.
extraídaderota2014blogspot
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