Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

"Queda da cleptocracia venezuelana é previsível, e Brasil deve ter cautela",

 editorial de O Globo

 É arriscado prever a queda imediata do regime cleptocrático e ditatorial da Venezuela. É visível, porém, o célere derretimento da estrutura de poder que sustentou o falecido coronel Hugo Chávez e ainda mantém o sucessor nomeado Nicolás Maduro no palácio presidencial de Miraflores.
Os eventos previstos para hoje em Caracas sinalizam aumento da pressão interna para a derrubada do grupo chavista, sob respaldo internacional. A data é simbólica no calendário venezuelano: nesse dia, em 1958, o país celebrou a queda da ditadura de Marcos Pérez Jiménez.
Jiménez passou à História como o militar que em seis anos sustentou uma política de “extirpação” — definição dele — dos adversários políticos. Há registros sobre o estímulo ao desenvolvimento de tecnologias de tortura, como as prisões com câmaras de gelo e os “ringues” para espancamentos com bolas de aço.
Na época, a crítica situação econômica insuflou a classe média e alavancou uma sucessão de rebeliões em quartéis. No 23 de janeiro, militares derrubaram o ditador.
Seis décadas separam o ocaso da era Jiménez da dissolução da estrutura de poder de Maduro. Há semelhanças na sequência de motins militares (há mais de 350 detidos, entre eles os 27 de ontem); nas prisões em massa de adversários (são mais de 12.400, segundo entidades humanitárias); nas centenas de casos de assassinatos e tortura catalogados; e nas violentas manifestações.
A diferença entre o cenário da queda de Jiménez, que se evoca hoje, e o colapso do regime de Maduro está na dimensão avassaladora da crise econômica, com graves sequelas humanitárias e êxodo de quase três milhões de venezuelanos, cerca de 10% da população. À inflação de 1.300.000% no ano passado, o regime respondeu com nova moeda. Nas últimas três semanas, ela perdeu mais de 50% do seu valor.
Não há saída sob tais condições para o consórcio civil-militar que, além da corrupção em escala industrial, transformou o país, dono de uma das maiores reservas de petróleo, em território livre para terroristas do ELN colombiano e para o narcotráfico sul-americano.
O desenlace está próximo. É desejável que aconteça sem banhos de sangue. A via institucional, doméstica, está assegurada pela Assembleia Nacional, única instância reconhecida como legítima.

O Brasil deve reforçar seu apoio à restauração democrática, com cautela e, principalmente, mantendo distância dos delírios militaristas que entusiasmam alguns políticos no continente.












extraidaderota2014blogspot

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