por Francisco José Ferraro Genu
As excelentes matérias do GLOBO “ Operações da Lava-Jato indicam que corrupção causou prejuízo de R$ 1,5 bilhão ao estado ”(02/12/2018) e “ Cervejaria Petrópolis pagava mesada de R$ 500 mil ao grupo de Cabral, diz relator ” (06/12/2018)
constituem inequívocas demonstrações dos prejuízos que a corrupção traz
para o Brasil e, em particular, para o Rio de Janeiro. É evidente que a
sociedade deve exigir que tal crime seja combatido com rigor. Isso é
coisa que não se discute.
Contudo, desejo lançar luz sobre certos temas, que, da mesma forma que a
corrupção, são roubos descarados do dinheiro público. E com dois
agravantes: primeiramente, envolvem muito, mas muito, mas muito mais
dinheiro que a corrupção; em segundo lugar, quase posso apostar que você
sequer enxerga essas pilhagens.
Por exemplo, as isenções fiscais. Para citar um único caso, a maioria da
população desconhece que, há um ano, as petroleiras internacionais
receberam benefícios fiscais no valor de 1 trilhão de reais. Sabe o que
isso significa? Que a cervejaria citada no início deste artigo
precisaria dar R$ 500 mil por mês de propina durante 166 mil anos para
totalizar o que receberam, numa única madrugada, as petroleiras
internacionais, essas pobres coitadas.
E o que dizer da sonegação de impostos? Por mais problemáticas que sejam
tais estimativas, calcula-se que esse crime atinja a cifra de R$ 500
bilhões por ano. Se uma conhecida empresa sonegadora acumula dívidas de
R$ 3 bilhões com o Estado do Rio, referentes a autuações de ICMS,
imagine a quanto não pode chegar o valor que surrupiam outras tantas
empresas que se utilizam dessa prática aqui no Rio e em todo o Brasil.
E nem me estenderei sobre a dívida pública, caixa-preta que faz os
bancos movimentarem exércitos se ousarmos falar mais do que cinco
palavras sobre o tema. Baseadas na experiência de outros países, pessoas
muito sérias juram de pés juntos que uns 30% de toda essa dívida
representam pura fraude, roubo mesmo, não precisariam ser pagos.
Você já ouviu falar na lei estadual 7.116/2015, “fabricada” na Alerj sob
medida para os grandes conglomerados? Aposto que nunca ouviu falar.
Pois é, esta lei permitiu a uma empresa parcelar uma dívida de R$ 1,2
bilhão, oriunda de sonegação, em 2.100 anos. Acredita-se, portanto, que
no ano 4.100 DC, no episódio final de "Star Wars", a última prestação
desse parcelamento venha a ser paga por Luke Skywalker, após o embate
definitivo contra Darth Vader. Molezinha, não?
O mais triste de toda essa história é que uma série de fatores
históricos, culturais, políticos e econômicos opera para que você sequer
enxergue essa malversação do dinheiro público, ou, se você conseguir
enxergá-la, não a considere como roubo. Todos os holofotes ficam
exclusivamente voltados para a corrupção, crime grave, sem dúvida, mas
que, quando comparada aos desvios de que tratamos neste artigo, não
passa de uma gorjetinha que a verdadeira elite reserva para os
políticos, não mais do que uns 5% de tudo que é roubado.
Fique claro então que, por meio de sonegação, benefícios fiscais, dívida
pública e tantas outras coisas mais, uma pequena elite saqueia uma
montanha de recursos públicos. Com toda a certeza, são esses desvios que
quebram o país, retiram o hospital público da sua mãe e inviabilizam a
existência de uma escola de qualidade para o seu filho. Portanto, fique
esperto: preste atenção em tudo, sobretudo no que de fato é importante.
Francisco José Ferraro Genu é auditor fiscal da Receita do Estado do Rio de Janeiro
O Globo
extraídaderota2014blogspot
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