por José Casado
Afundam, se arrastam e escavam na lama à procura dos soterrados pela
escória química da Vale. São servidores públicos, bombeiros na maioria.
Trabalham para o Estado de Minas sem saber quando e como serão pagos. O
último governador, Fernando Pimentel, expoente do Partido dos
Trabalhadores, foi embora sem pagar a folha de 2018. E o sucessor, Romeu
Zema, do Partido Novo, não tem ideia de quando vai conseguir saldar a
dívida.
Minas entrou em colapso pouco antes de uma subsidiária da Vale e BHP
Billiton despejar um rio de lama tóxica sobre 230 cidades mineiras e
capixabas, deixando um legado de miséria e desemprego na região onde a
mineração avança desde a Colônia. Naquele 2015, a Petrobras também
entrou em convulsão. Por corrupção, em parceria com grupos privados como
Odebrecht, SBM (Holanda) e Keppel Fels (Cingapura).
Os executivos Murilo Ferreira (Vale) e Andrew Mackenzie (BHP) acertaram
com os governos Dilma Rousseff, Fernando Pimentel (MG) e Paulo Hartung
(ES) a contenção dos danos corporativos (US$ 2 bilhões) a 3% das sua
vendas (US$ 60 bilhões).
Foram aplaudidos por 166 deputados federais e 14 senadores eleitos com o
dinheiro de empresas de mineração. Elas bancaram, por exemplo, 47% dos
gastos do deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), aliado de Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) — condenado a mais de 40 anos de prisão por corrupção na
Petrobras e na Caixa nos governos Lula e Dilma.
Quintão retribuiu com eterna gratidão: promoveu a “modernização” das
normas sobre mineradoras, a partir de um texto produzido em laptop da
banca Pinheiro Neto, que defende a Vale e a BHP Billiton. Não foi
reeleito, mas conseguiu abrigo na Casa Civil de Bolsonaro, onde serão
filtradas as mudanças na lei setorial.
Depois de inventar o socialismo de direita e o capitalismo de laços, o
Brasil inova com a criação de passivos intangíveis em escala industrial:
algumas das maiores empresas avançam na produção de dívidas
imensuráveis em responsabilidade social, governança e meio ambiente. A
lama é política e corporativa.
O Globo
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