por Gil Castello Branco
Os que creem sabem que o ano será regido por São Jorge e Ogum. Aposte na cor vermelha, no número 7 e tome decisões importantes nas terças-feiras, dizem os especialistas. A economia, porém, além das ciências místicas, depende das expectativas e dos fatos. Até o momento, há otimismo: segundo o Datafolha, 65% dos brasileiros avaliam que a situação econômica do país irá melhorar.
De fato, as previsões das consultorias, bancos e corretoras apontam para inflação anual baixa (4,03%) e aumento de 2,53% no Produto Interno Bruto (PIB), o maior desde 2013. Vale lembrar que, em oito dos últimos dez anos, os analistas superestimaram as taxas de crescimento, mas a conjuntura atual é favorável. Inflação controlada, elevada capacidade ociosa, 12,2 milhões de desempregados e safra recorde para baratear o custo dos alimentos.
Neste cenário, o crescimento econômico não será um propulsor da inflação, e o Banco Central não precisará elevar os juros. A equipe econômica é coesa, competente e mescla profissionais do mercado financeiro com servidores experientes que conhecem a máquina pública. O otimismo, portanto, tem fundamento; mas é perecível...
Sem o reequilíbrio das contas públicas, o Brasil irá se tornar ingovernável. Desde 2014, há déficits primários e neste ano não será diferente (R$ 139 bilhões). A dívida bruta já se aproxima de 80% do PIB. As despesas obrigatórias, notadamente pessoal e Previdência, continuam em alta e podem representar incríveis 98% do total das despesas primárias em 2021! A reforma da Previdência, portanto, será apenas o primeiro embate relacionado ao paquidérmico e corporativo Estado brasileiro.
Destravar a economia passa, necessariamente, pela desvinculação do Orçamento, desburocratização, concessões, venda de empresas estatais, alienação de imóveis e extinções de órgãos, funções comissionadas, privilégios, reservas de mercado, isenções fiscais, subsídios etc. O receituário liberal está pronto. Falta apenas combinar com os russos e o Congresso.
Uma das dúvidas quanto ao êxito do novo governo diz respeito, justamente, ao seu relacionamento com o Legislativo.
A opção pelo contato com as bancadas temáticas, em vez dos partidos, irá funcionar?
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, terá experiência e competência para intermediar essa relação?
No marco dos cem dias, haverá avanços significativos nas reformas da Previdência e tributária, vistas como emblemáticas?
Os projetos do ministro Sergio Moro para combater a corrupção e o crime organizado tramitarão em regime de urgência?
Na mesma linha, as 70 medidas de combate à corrupção propostas pela sociedade serão recepcionadas pelo Legislativo ou serão desfiguradas e engavetadas como ocorreu com propostas anteriores?
Como a oposição irá se comportar no “terceiro turno”? A bancada do PSL vai parar de brigar pela internet? Afinal, como mostrou o presidente, a roupa suja deve ser lavada no tanque...
Questões econômicas e políticas à parte, o apoio dos cidadãos ao novo presidente dependerá diretamente das soluções para os seus problemas: emprego, moradia, melhor atendimento nos hospitais, creches e escolas para os seus filhos, segurança para ir e vir em paz, transporte urbano barato e de qualidade, entre outros.
A partir de hoje, todas as promessas de campanha serão cobradas em meio a fatores imponderáveis, como o bom senso dos caminhoneiros, as respostas do motorista Queiroz ao Ministério Público e até o comportamento dos filhos de Bolsonaro. Neste caso, como recomendam os psicólogos aos pais, talvez seja conveniente colocá-los no “cantinho do pensamento” para algumas reflexões.
Enfim, caro leitor, na dúvida sobre o que irá acontecer em 2019, siga o provérbio chinês: “Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier”. Feliz Ano Novo!
O Globo
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