Bernardo Mello Franco - Folha de São Paulo
O palanque aceita quase tudo, mas Lula está abusando. Em caravana pelo Rio de Janeiro, o ex-presidente passou a culpar a Lava Jato pela falência do Estado.
Na quarta-feira, ele disse que o povo fluminense "não merece o que está
passando". Isso é uma obviedade, o problema veio na frase seguinte. "A
Lava Jato não podia fazer o que está fazendo com o Rio", afirmou.
O ex-presidente sustentou que a investigação dos desvios na Petrobras
seria responsável pela crise na estatal. "Por causa de meia dúzia que
eles dizem que roubaram e ainda não provaram, não podem causar o
prejuízo que estão causando", disse.
Se a tese fosse verdadeira, seria melhor deixar que a turma continuasse
roubando à vontade. Além de interromper a pilhagem, a Lava Jato já
devolveu R$ 1,4 bilhão à empresa.
Nesta quinta, Lula lamentou as prisões de Sérgio Cabral e Anthony Garotinho.
"O Rio não merece ter governadores presos porque roubaram", afirmou.
Mais uma vez, o problema veio depois. "Eu nem sei se isso é verdade,
porque não acredito em tudo o que a imprensa fala", disse.
A esta altura, é mais fácil encontrar um torcedor do São Cristóvão
Futebol e Regatas do que um carioca que acredite na inocência de Cabral.
O peemedebista já foi condenado três vezes por corrupção, e suas penas
somam 72 anos de cadeia.
Quando a Polícia Federal o transferiu do Leblon para Bangu, houve
foguetório nas ruas. No mês passado, servidores com salários atrasados
distribuíram bolo e salgadinho para festejar o aniversário da prisão.
Lula disputou cinco eleições presidenciais e venceu quatro delas no Rio.
Antes de começar a sexta, ele deveria pedir desculpas por ter feito
campanha para Garotinho e Cabral.
No ano passado, o PT foi praticamente dizimado no Estado. O partido
governava dez municípios e só conseguiu vencer em Maricá, onde Lula
esteve na quarta-feira. Antes do comício, a prefeitura recrutou
funcionários para ajudar a encher a praça.
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