por Danuza Leão O Globo
Não sei quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, nem quem usou, pela primeira vez, a palavra “supremo”. Mas lembro bem quando apareceu, no cenário musical mundial, a divina Diana Ross, e fazendo seu backing, as Supremes. Quem teve a sorte de ouvi-las nunca esqueceu. Mas, hoje, quando se ouve a palavra supremo, só se pensa no Supremo Tribunal Federal e se compreende que pertencer ao universo Supremo — seja do que for — é ser a excelência das excelências, o melhor do melhor. Até um frango; quem nunca se regalou com um suprême de frango?
Os julgamentos do Supremo, hoje, são vistos com a mesma empolgação com que se via a Seleção jogar ou se ouviam as Supremes cantar. Eu não perco um, mas, na maioria das vezes, termino frustrada sem saber qual foi o resultado, pois não dá para entender o que falam. Como são 11, vamos falar deles como de um time de futebol, para não ficar muito sisudo. Alguns são craques, outros nem tanto, estão ali porque o pai é amigo do diretor do clube. Esses jogadores são convocados ad eternum, e têm a liberdade de jogar na posição que escolherem, dependendo do jogo. Vamos a eles, e vê se você adivinha quem são.
Há um muito bom, mas vaidoso. Vaidoso demais. Pega a bola e, no último momento, faz uma jogada inesperada, uma maneira de se exibir. É o rei do voto criativo, e a imprensa já sabe que o que disser será sempre uma surpresa, por razões estritamente pessoais: causar impacto e notícias nos jornais.
Como se trata de uma seleção moderna, é permitida a presença de mulheres. Aliás, permitida não, exigida, para mostrar que o judiciário não é machista. Elas são duas.
Conhecem bem as leis, mas demonstram uma certa fragilidade. O famoso julgamento de Aécio (que agora só chamam de julgamento de outubro) terminou, como bem disse um comentarista de TV, empatado: 5 1/2 a favor, 5 1/2 contra. Tão enrolado foi o voto de uma das ministras, que o assunto continua enrolado. Elas são sérias e bem intencionadas, mas, para o cargo que ocupam, seria bom se tivessem um pouco mais de pulso (como parece ser o caso de Raquel Dodge, viva ela).
Há um grupinho de quatro que parece torcer pelo time adversário. Sempre que o jogo vai bem, até mesmo já ganho, um deles faz gol contra — pedindo vista, por exemplo. São os amigos da diretoria do time adversário, claro, e viram o placar, frustrando toda a torcida.
Um deles parece vigilante noturno de seriado americano; quando tem que bater falta, fala durante hora e meia contada no relógio, e quando chuta, chuta errado. Ninguém presta atenção ao seu voto, mas ele gosta de se ouvir. Hora de trocar de canal.
Um dos jogadores é modesto e fechado, e fala só o estritamente necessário. Modesto, fechado e também tímido; quando lhe cabe bater um pênalti, ele reúne o grupo e faz uma espécie de sorteio, para não ficar com a responsabilidade só para ele. É boa praça, mas dele mal se conhece a voz.
Já o outro é o típico jogador de futebol, que poderia ser também de vôlei de praia. O figurino perfeito para ele seria uma sunga vermelha, jogando numa rede de vôlei no Posto 4. Cheio de personalidade, vozeirão, sabe exatamente o que deve fazer e raramente erra. Bom de bola.
Um dos mais novos no grupo começou tímido mas está se desinibindo e tem se mostrado brilhante. Seus propósitos são os melhores e faz as jogadas certas. Tem a postura correta que se pode querer para um jogador de seleção.
Ficou para o gran finale o capitão do time: aquele que sabe tudo, que não erra o passe, que não machuca ninguém, que jamais pretende se mostrar o melhor, mas é. Quando pega a bola, não tem para mais ninguém, e os outros jogadores até param para vê-lo jogar. Com perdão pela intimidade, um fofo, o ministro Celso de Mello.
É a ele que vou pedir que colabore para que nós, simples mortais, possamos entender o que eles dizem; afinal, é justo que a gente participe. Depois de votarem, queremos cinco minutinhos de cada um, sem juridiquês, explicando seu voto, para batermos palmas cada vez mais fortes quando os encontrarmos em algum lugar.
extraídaderota2014blogspot
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