Percival Puggina
Ao longo de décadas, Paulo Maluf era uma espécie de navio pirata da política, pegando um butim em cada porto a que o conduziam os votos de imenso eleitorado cativo de seu sorriso cínico, de sua prodigiosa memória, dos favores de costume e da proverbial capacidade de usar a lei a seu favor. Maluf mentia, todos sabiam que ele mentia, ele sabia que todos sabiam. E todos riam um estranho riso solidário. O verbo malufar virou sinônimo de roubar e era exatamente essa má fama que, ironicamente, lhe preparava a cama, prenunciando toda a degradação por vir.
Maluf parecia uma figura insólita, até a ascensão petista ao poder. Bastaram uns poucos anos de petismo para que aprendizes do “professor” Maluf se multiplicassem na cena nacional, operando, de modo orquestrado, desvairada corretagem privada e partidária dos negócios nacionais. Diante da voracidade dos novatos, Maluf era um tímido, sem ambição, inapetente.
O velho trampolineiro não tem nem para a largada numa comparação com Lula. Falta-lhe a teatralidade, o brilho do palanque. Lula faz sem pestanejar coisas que repugnariam Maluf. Este jamais descarregaria em dona Sylvia as responsabilidades que Lula, sem qualquer constrangimento, tem atribuído a dona Marisa Letícia. Mais, se Maluf fosse Lula, jamais faria aquela visita para pedir apoio a Haddad na eleição de 2012. Enquanto Maluf mente para cumprir o ritual da enganação, Lula mente porque de tanto mentir não mais distingue os fatos de sua vida das versões que ele e seus companheiros constroem.
Penso que ante tão longa história de ambos na política brasileira, seja uma feliz coincidência Maluf estar preso um mês antes do julgamento de Lula, em segunda instância, do primeiro dos seis processos em que é réu. Bom, muito bom.
Apesar de você, Gilmar Mendes, “amanhã há de ser outro dia”.
EXTRAÍDADEPUGGINA.ORG
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