editorial do Estadão
A maré da recuperação já se espalhou pela maior parte da indústria, como
confirmam os dados de outubro, quando a produção foi 0,2% maior que em
setembro. O volume produzido cresceu em 15 dos 24 ramos cobertos pela
pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). O aumento foi contabilizado em 61,9% das linhas de mercadorias,
incluídos produtos tão variados quanto artigos farmacêuticos, tecidos,
móveis e equipamentos mecânicos. Essa foi a mais ampla difusão de
números positivos desde abril de 2013, quando o indicador chegou a
66,7%. Esse balanço reforça a imagem de uma economia em firme
recuperação. Essa imagem foi claramente mostrada no balanço geral do
período de julho a setembro, quando o Produto Interno Bruto (PIB) se
expandiu 0,1%, acumulando três trimestres consecutivos de crescimento. O
desempenho da indústria no começo do trimestre final consolida a
expectativa de um fim de ano bem melhor que o de 2016 e – mais
importante – de um ambiente de negócios bem mais animado em 2018.
Mais um sinal muito animador aparece quando se compara o volume
produzido em outubro com o de um ano antes. A diferença positiva, de
5,3%, também foi a maior, nesse tipo de confronto, desde abril de 2013,
quando se registrou a variação de 9,8%. Um dia a mais em outubro deste
ano pode ter afetado a conta, mas é com certeza insuficiente para
explicar uma diferença tão grande. No ano, o crescimento em relação aos
dez meses correspondentes de 2016 chegou a 1,9%, uma clara confirmação
da tendência de retomada. O crescimento em 12 meses bateu em 1,5%.
A expansão foi dinamizada, como já ocorreu em meses anteriores, pela
fabricação de bens de capital, denominação genérica de máquinas e
equipamentos. A produção cresceu 1,1% de setembro para outubro e ficou
14,9% maior que a de igual mês do ano anterior. O crescimento chegou a
5,6% no ano e a 6% em 12 meses.
Somada à importação dessa categoria de bens, a produção interna é mais
uma indicação da retomada do investimento empresarial. O movimento é
insuficiente, ainda, para reverter a redução acumulada em muitos anos e
refletida na perda de poder de competição do Brasil. Mas é um sinal nada
desprezível.
As compras de máquinas e equipamentos devem ser em parte atribuíveis à
necessidade inadiável de reposição de material, ou mesmo de
modernização, depois de muito tempo sem investimento produtivo. Ainda há
muita capacidade ociosa, mas em muitas fábricas a troca de bens de
capital deve ter-se tornado urgente.
Mas o reforço do capital fixo provavelmente reflete, além dessa
necessidade, uma avaliação mais positiva de como a economia nacional
deverá evoluir em 2018. O empresário mais animado deve ter começado a
preparar-se para aproveitar sem perda de tempo a aceleração dos
negócios.
A redução dos juros contribuiu, quase certamente, para animar
empresários a imobilizar dinheiro em máquinas e equipamentos. Mas deve
ter contribuído ainda mais para o aumento das compras de bens duráveis
de consumo, como automóveis, eletrodomésticos e móveis. A produção de
duráveis diminuiu 2% de setembro para outubro, mas ainda se manteve
17,6% maior que a de um ano antes. De janeiro a outubro o total
produzido foi 12,4% superior ao dos mesmos dez meses de 2016. O
crescimento acumulado em 12 meses bateu em 11,4%, a maior taxa de todos
os segmentos listados na classificação do IBGE. A segunda maior, de 6%,
foi a dos bens de capital.
O corte dos juros básicos foi iniciado em outubro de 2016, quando a taxa
era de 14,25%. A redução foi possível, de acordo com os critérios do
Banco Central (BC), por causa do firme recuo da inflação e da
perspectiva de continuidade do ajuste das contas públicas, incluída a
execução de reformas. A criação do teto de gastos foi uma primeira
inovação importante. O próximo grande sinal positivo deve ser o avanço
da reforma da Previdência. Uma frustração será um péssimo indício para o
BC e para os investidores e financiadores internacionais e uma nova e
grave ameaça ao crescimento econômico.
extraidaderota2014blogspot
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