editorial do Estadão
Depois de sete anos do primeiro estudo, Homi
Kharas publicou uma atualização de suas projeções, com o título A
expansão sem precedentes da classe média global – uma atualização. O
economista constatou que a classe média, formada hoje por pouco mais de 3
bilhões de pessoas – em torno de 40% da população mundial –, vem
crescendo mais rapidamente do que a previsão de 2010. Atualmente, mais
de 140 milhões de pessoas entram, a cada ano, no estrato social
intermediário. Em cinco anos, esse número deve atingir 170 milhões de
pessoas. Em 2020, a maior parte da população global deverá ser de classe
média. Estima-se que, até 2024, esse contingente deverá chegar a 4
bilhões, e 70% desse crescimento estará concentrado na China e na Índia.
Em 2015, o mercado global da classe média fechou em US$ 35 trilhões, 12%
a mais que a previsão anterior. Em 2030, o número pode chegar a US$ 64
trilhões. É interessante notar que, de todo esse crescimento de US$ 29
trilhões no consumo da classe média, apenas US$ 1 trilhão decorrerá de
mais gastos das economias desenvolvidas.
Da mesma forma que constata uma forte expansão da classe média na Ásia, o
estudo aponta para uma estagnação dessa faixa de renda em países
desenvolvidos e em algumas economias emergentes, como a brasileira. A
classe média norte-americana deverá perder, em 2020, o topo do mercado
para a chinesa. E em 2030 ela deverá cair para a terceira posição, com a
classe média indiana assumindo a 2.ª colocação.
Homi Kharas vê uma diferença fundamental entre o desenvolvimento da
classe média no Brasil e nos grandes países asiáticos. “Os asiáticos
continuaram a abrir seus mercados, dando grande ênfase à educação e
permitindo às próximas gerações o acesso ao padrão de vida da classe
média”, disse ao Estado.
Segundo o economista, diferentemente do que ocorreu no Brasil, os
investimentos asiáticos em infraestrutura tornaram sustentáveis
contínuos ganhos de renda entre as classes mais baixas. “Lá, as cidades
são usualmente bem projetadas para permitir que famílias de classe média
baixa tenham acesso a empregos e serviços. Alcançar e sustentar este
segmento requer uma série de ações”, afirmou Kharas, que cita economia
pró-mercado, educação qualificada e políticas governamentais como
fatores de ampliação da classe média.
É conhecida a importância da classe média para o desenvolvimento
econômico e social das nações, sejam elas desenvolvidas ou em
desenvolvimento. Quanto mais as pessoas têm capacidade de consumir e
economizar, mais aptas estão a promover mudanças sociais e políticas de
longo prazo. Um estudo do Pew Research Center sobre a classe média
global constatou a evidência empírica de que, juntamente com a educação,
a renda é um dos fatores determinantes para a qualidade das
instituições políticas. A partir de uma renda de US$ 10 por dia, as
pessoas ingressam numa situação de segurança econômica mínima, que as
protege de retornar facilmente à pobreza.
Conhecer a situação da classe média global, suas tendências e as
discrepâncias com a realidade nacional ajuda a ver a urgência de aprovar
as reformas necessárias para o desenvolvimento econômico e social, bem
como a gravidade da crise produzida pelos governos petistas. Estima-se
que a classe média brasileira voltará ao patamar anterior à crise apenas
em 2023.
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