editorial de O Globo
Não é por acaso que na atual crise há um acúmulo de problemas que têm
relação com o peso excessivo do Estado na vida da sociedade. Seja como
tutor dos supostamente mais fracos ou como provedor de aposentados e
pensionistas, muitos dos quais, devido à visão paternalista com que
normas previdenciárias de cunho assistencialista foram redigidas, ainda
em condições de trabalhar.
O Estado que emergiu da Constituição de 1988, descendente direto do
assistencialismo e parente de uma visão de mundo com tinturas dirigistas
— soterrada no ano seguinte ao da promulgação da Carta, simbolicamente,
pela demolição do Muro de Berlim, marco da derrocada do “socialismo
real” — tornou-se caro demais para o contribuinte brasileiro.
Tantos direitos foram criados e outros, perpetuados, que o Tesouro
vergou sob o peso de gastos que superam uma arrecadação tributária
enorme, recolhida por meio de pesados tributos — 35% do PIB, recorde
entre economias ditas emergentes —, e acumula déficit numa proporção de
pouco mais de 8% do PIB, índice fora de qualquer esquadro razoável.
A política de gastos crescentes, da dupla Lula/Dilma, para se contrapor à
crise mundial deflagrada em 2008/2009, foi mantida de forma
irresponsável, elegeu Dilma e quebrou o país em sua própria moeda, o
real. Algo de grande ineditismo numa encomia que historicamente estola
por falta de divisas, moeda forte. Pois, desta vez, faliu com US$ 300
bilhões nas reservas externas. Porque a crise foi originada em grave
irresponsabilidade fiscal, tanto que Dilma Rousseff terminou impedida de
concluir o segundo mandato por este motivo.
A reforma da Previdência é essencial para atualizar regras que fazem um
país de população relativamente jovem ter uma despesa com aposentadorias
e pensões equivalente em relação ao PIB à do Japão, notabilizado por
reunir grande proporção de nonagenários.
Outra mudança imperiosa é a flexibilização da legislação trabalhista,
herança resistente da ideologia fascista do getulismo, responsável por
colocar trabalhadores e empregadores sob as asas do Estado. Não por
coincidência, a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), de Vargas,
sacramentada em 1943, se inspira na Carta del Lavoro, de Benito
Mussolini, ditador italiano, aliado de Hitler.
Pois o alto custo da tutela estatal — não é difícil entender — voltou-se
contra o próprio trabalhador que se pretendia proteger. Num Brasil
pouco industrializado, ainda muito rural, podia-se entender este viés
dos chamados direitos trabalhistas. Mas, à medida que a industrialização
evoluiu e o país se urbanizou, o custo excessivo da tutela passou a
gerar subemprego e informalidade.
Somando-se a isso a relativa integração mundial da economia brasileira e
mudanças rápidas nos sistemas produtivos e, portanto, nas relações de
trabalho, era imperioso tirar a terceirização da semi clandestinidade e
permitir que acordos entre empregados e patrões, mediados por
sindicatos, pudessem desobedecer pontos da CLT. Está sendo uma evolução,
impulsionada pela própria crise.
extraidaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário