Editorial do Estadão:
Quando se veiculou, no dia 17 de maio, a versão de que havia um áudio
no qual o presidente Michel Temer teria dado anuência à compra do
silêncio de Eduardo Cunha e de Lúcio Funaro, foi pelos ares a relativa
estabilidade que o País vivia nos últimos meses e que começava a mostrar
seus resultados. A crise política voltou forte e arrastou os primeiros
indícios de recuperação econômica. Ainda que a divulgação da gravação,
no dia seguinte, tenha mostrado que não havia a propalada anuência
presidencial, o estrago estava feito e o País, uma vez mais, se via
enredado em discussões sobre a governabilidade.
A crise nascida no dia 17 de maio expôs velhas e novas feridas nacionais: a atuação açodada do Ministério Público, com a conivência do Poder Judiciário, os benefícios imorais e ilegais concedidos ao chefe de uma operação criminosa – que ainda ganha dinheiro com o vazamento de sua delação –, as relações espúrias do mundo político com o dinheiro privado, as desastrosas consequências morais e econômicas da política lulopetista dos campeões nacionais, com o completo desvirtuamento da finalidade do BNDES, entre outras mazelas.
Uma crise como a desencadeada no dia 17 não deveria impor à opinião pública um sentimento forte – e talvez definitivo – de desconfiança em relação à coisa pública ou ao mundo político. Afinal, é da natureza das crises expor, sem maiores pudores, as deficiências nacionais, o que, por sua vez, mostra ser absolutamente necessário olhar além da superfície o cenário político e administrativo. Tal atitude serena não é igual a jogar a sujeira para debaixo do tapete ou desviar os olhos da atuação imoral de políticos, funcionários e empresários. O que é preciso fazer, para o encaminhamento de uma solução pertinente para a crise, é ter uma clara noção da situação, uma visão nítida de para onde se pretende conduzir o País e um balanço realista dos meios de que se dispõe para tanto.
Sem isso, não se vai a lugar algum. O mundo real impõe limitações e a política é sempre a arte do possível, dentro do estrito respeito às regras do jogo democrático.
Um dos pontos que a atual crise mais evidencia é a completa ausência de lideranças políticas prontas para dar as respostas rápidas e eficientes que o momento exige. É fácil achar incendiários ou oportunistas. Difícil é encontrar quem, capaz de formular um diagnóstico realista sobre a situação nacional, também possa articular caminhos e soluções viáveis, constitucionais, para destravar o País. Não se confunda a deficiência que acabamos de apontar com qualquer dificuldade para encontrar possíveis nomes para uma eventual substituição de Michel Temer. No momento, esse é um falso problema. O posto presidencial não está vago. Referimo-nos a um problema mais estrutural e prévio à apresentação de nomes e candidaturas: a carência de lideranças capazes de fazer política, na melhor acepção do termo.
Há, sem dúvida, pessoas experientes, que conhecem o funcionamento do Congresso, do Poder Executivo e – o quanto é possível saber – das leis e do Judiciário. O que faz falta são lideranças capazes de projetar o País para o futuro, de pensar estrategicamente. Pessoas que vislumbrem novos horizontes e, como se escreveu nesse espaço há não muito tempo, possam “aglutinar sentimentos, representar vontades, promover consensos e levar adiante projetos que ultrapassem os interesses particulares”.
O momento que o País atravessa é realmente delicado, e o risco advém não tanto de eventual tibieza do governo. O principal perigo é que a atual crise aprofunde a desconfiança da população em relação à política e leve a um distanciamento dela ainda maior de jovens talentos. Essa descrença, tornada crônica, inviabilizaria a governabilidade, não só de agora, mas do futuro. É isso que cumpre evitar, antes de mais nada.
Não é das tarefas mais difíceis falar mal atualmente da política nacional. São muitas, evidentes e graves as suas falhas. É preciso, sem dúvida, analisá-las a fundo, descobrindo suas causas e propondo correções. O que não se pode nem se deve fazer é usar as dificuldades e as mazelas atuais para levar a população a fugir da política, seja alimentando sentimentos que vão da repulsa à indiferença, seja fabricando messiânicas e utópicas soluções.
Terá o Brasil líderes capazes de levar avante essa tarefa?
EXTRAÍDADEBLOGDEAUGUSTONUNESOPINIAOVEJA
A crise nascida no dia 17 de maio expôs velhas e novas feridas nacionais: a atuação açodada do Ministério Público, com a conivência do Poder Judiciário, os benefícios imorais e ilegais concedidos ao chefe de uma operação criminosa – que ainda ganha dinheiro com o vazamento de sua delação –, as relações espúrias do mundo político com o dinheiro privado, as desastrosas consequências morais e econômicas da política lulopetista dos campeões nacionais, com o completo desvirtuamento da finalidade do BNDES, entre outras mazelas.
Uma crise como a desencadeada no dia 17 não deveria impor à opinião pública um sentimento forte – e talvez definitivo – de desconfiança em relação à coisa pública ou ao mundo político. Afinal, é da natureza das crises expor, sem maiores pudores, as deficiências nacionais, o que, por sua vez, mostra ser absolutamente necessário olhar além da superfície o cenário político e administrativo. Tal atitude serena não é igual a jogar a sujeira para debaixo do tapete ou desviar os olhos da atuação imoral de políticos, funcionários e empresários. O que é preciso fazer, para o encaminhamento de uma solução pertinente para a crise, é ter uma clara noção da situação, uma visão nítida de para onde se pretende conduzir o País e um balanço realista dos meios de que se dispõe para tanto.
Sem isso, não se vai a lugar algum. O mundo real impõe limitações e a política é sempre a arte do possível, dentro do estrito respeito às regras do jogo democrático.
Um dos pontos que a atual crise mais evidencia é a completa ausência de lideranças políticas prontas para dar as respostas rápidas e eficientes que o momento exige. É fácil achar incendiários ou oportunistas. Difícil é encontrar quem, capaz de formular um diagnóstico realista sobre a situação nacional, também possa articular caminhos e soluções viáveis, constitucionais, para destravar o País. Não se confunda a deficiência que acabamos de apontar com qualquer dificuldade para encontrar possíveis nomes para uma eventual substituição de Michel Temer. No momento, esse é um falso problema. O posto presidencial não está vago. Referimo-nos a um problema mais estrutural e prévio à apresentação de nomes e candidaturas: a carência de lideranças capazes de fazer política, na melhor acepção do termo.
Há, sem dúvida, pessoas experientes, que conhecem o funcionamento do Congresso, do Poder Executivo e – o quanto é possível saber – das leis e do Judiciário. O que faz falta são lideranças capazes de projetar o País para o futuro, de pensar estrategicamente. Pessoas que vislumbrem novos horizontes e, como se escreveu nesse espaço há não muito tempo, possam “aglutinar sentimentos, representar vontades, promover consensos e levar adiante projetos que ultrapassem os interesses particulares”.
O momento que o País atravessa é realmente delicado, e o risco advém não tanto de eventual tibieza do governo. O principal perigo é que a atual crise aprofunde a desconfiança da população em relação à política e leve a um distanciamento dela ainda maior de jovens talentos. Essa descrença, tornada crônica, inviabilizaria a governabilidade, não só de agora, mas do futuro. É isso que cumpre evitar, antes de mais nada.
Não é das tarefas mais difíceis falar mal atualmente da política nacional. São muitas, evidentes e graves as suas falhas. É preciso, sem dúvida, analisá-las a fundo, descobrindo suas causas e propondo correções. O que não se pode nem se deve fazer é usar as dificuldades e as mazelas atuais para levar a população a fugir da política, seja alimentando sentimentos que vão da repulsa à indiferença, seja fabricando messiânicas e utópicas soluções.
Terá o Brasil líderes capazes de levar avante essa tarefa?
EXTRAÍDADEBLOGDEAUGUSTONUNESOPINIAOVEJA
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