Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
A Operação Lava Jato deixou um rastro de mais de R$ 90 bilhões em obras
paradas de Norte a Sul do Brasil, sem previsão de retomada. A lista
inclui grandes empreendimentos que, se estivessem em operação, trariam
inúmeros benefícios para a população brasileira, como projetos de
mobilidade urbana (metrôs e corredores de ônibus), rodovias,
universidades e centros de saúde. Há também instalações industriais de
grande relevância para a economia nacional, como os investimentos da
Petrobrás.
Alguns projetos foram paralisados por suspeitas de sobrepreço, outros
por divergências em relação ao valor das obras e também por falta de
financiamento ou recursos próprios para tocar a construção. Todos os
empreendimentos têm em comum o fato de estarem sendo construídos por
empreiteiras envolvidas no maior escândalo de corrupção do País e que
hoje estão com graves problemas financeiros, sem caixa e sem crédito no
mercado. O levantamento das obras foi feito pela Câmara Brasileira da
Indústria da Construção (Cbic) e pelo Estado e considerou apenas os
grandes projetos.
“Na Hidrelétrica São Roque, parada há mais de um ano, a retomada criaria
mil empregos durante 10 meses. Esse é o contingente de pessoas e o
tempo para concluir os 20% de obras restantes. Até a paralisação, o
projeto já havia recebido R$ 700 milhões de investimentos. Faltam mais
R$ 300 milhões para concluir o empreendimento e iniciar operação.
Mas, envolvida na Lava Jato, a Engevix ficou descapitalizada e sem
recursos para continuar as obras da usina que terá capacidade para gerar
142 megawatt (MW). Agora, a empresa tenta encontrar um sócio para
colocar o projeto em pé.
Em outros projetos, a expectativa é a troca dos acionistas. A Petrobrás,
por exemplo, já anunciou que pretende sair integralmente da produção de
fertilizantes. A empresa é dona da Unidade de Fertilizantes
Nitrogenados 3 (UFN3), que estava sendo construída pela Galvão
Engenharia e Sinopec. Com 81% das obras concluídas e R$ 3,2 bilhões
investidos, a obra foi paralisada em dezembro de 2014 e até hoje não
existe previsão de retomada.
Abandono. A
exemplo da UFN3, o BRT Via Livre Leste-Oeste e o Ramal da Copa, em
Pernambuco, e o Estaleiro Enseada tiveram as obras interrompidas há
quase três anos. No primeiro caso, o consórcio construtor formado por
Mendes Júnior e Servix abandonaram as obras e foram multadas, afirma a
Secretaria de Cidades de Pernambuco. Dos R$ 168,6 milhões do projeto, R$
136 milhões já foram investidos. Os serviços estão sendo retomados aos
poucos com a contratação de novas empresas.
“Há um conjunto grande de obras paradas no Brasil inteiro, mas os dois
maiores símbolos da paralisia dos investimentos são a Linha 6 do metrô
de São Paulo e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). São
dois desastres”, afirma o presidente da consultoria Inter.B, Claudio
Frischtak. Só as obras paulistas representam R$ 9,9 bilhões de
investimentos, parados desde o ano passado. Envolvidas na Lava Jato, as
empreiteiras do consórcio construtor (Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC)
não conseguiram fechar o financiamento com o BNDES para continuar a
construção, que estava com 15% das obras executadas.
O governo do Estado de São Paulo diz que aguarda uma solução até o
início do mês que vem. Caso contrário, um processo de rescisão do
contrato poderá ser iniciado.
A obra do Comperj é ainda mais dramática. Orçado em US$ 13,5 bilhões, o
projeto está parado desde julho de 2015 e seu futuro é incerto. Em nota,
a Petrobrás afirmou que está buscando parcerias para concluir as obras
da primeira fase.
extraídaderota2014blogspot
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