por Joel Pinheiro da Fonseca Folha de São Paulo
Não deixe a coloração ideológica te enganar: o petismo (isto é, todas as
pessoas envolvidas na defesa do projeto do PT) é o que de mais perto
temos da alt-right, a direita alternativa americana que deu a vitória a
Trump.
As semelhanças entre o programa de Trump e o do PT são já bem conhecidas. Assim como Dilma, Trump foi eleito numa agenda populista prometendo
mundos e fundos aos trabalhadores. Apostam no nacionalismo econômico,
como na exigência de conteúdo nacional e na rejeição a acordos de livre
comércio. Praticam o deficit fiscal insustentável –no Brasil via aumento
de gastos, nos EUA via corte de impostos–, ambos dependentes de um
improvável aumento da arrecadação.
Para além disso, contudo, há a semelhança do entorno cultural que criam
para sustentar seu poder. Esse é ainda mais preocupante. Em poucas
palavras: ambos promovem a segregação informacional de eleitores
fanatizados, o culto à personalidade, a intimidação de vozes dissonantes
e o aprofundamento das tensões sociais.
O primeiro aspecto que chama atenção é a rejeição à mídia tradicional,
que, com todos os seus defeitos, é quem garante uma qualidade mínima ao
jornalismo. Sob a alegação infundada de que ela veicula "fake news"
–notícias falsas–, os seguidores de Trump aferram-se a blogs e
radialistas da direita mais estridente; um mundo à parte, de "fatos
alternativos" e teorias da conspiração paranoicas.
Para o petismo, a mídia tradicional é "golpista". Confiáveis são os
blogs aliados ao petismo, também adeptos de teorias da conspiração
estapafúrdias. A novidade é que, no Brasil, foram sustentados pelo
governo federal até o impeachment acabar com a mamata.
Trump promove a hostilização a órgãos de imprensa. O Brasil já está um
passo à frente: hostilização pública de jornalistas, como as perpetradas
contra Míriam Leitão e Alexandre Garcia nas últimas semanas. Tudo
justificado pela blogosfera petista.
Por meio de tuítes presidenciais e ameaças de novas tarifas, Trump tem
reproduzido algo que nós no Brasil conhecemos bem: a intimidação do
empresariado. Empresários se omitem da discussão política e do apoio a
projetos, com medo de retaliações do governo federal.
Por fim, ambos os movimentos apostam na divisão social para arregimentar
mais seguidores. No caso de Trump, uma campanha explícita de ódio a
imigrantes, a muçulmanos e aos "liberals" –a esquerda americana. No
petismo, uma fartura de divisões: pobres vs ricos, brancos vs negros,
homens vs mulheres; até ciclistas vs motoristas. Não há ódio que não
sirva ao sucesso do partido, ainda que a bandeira seja descartada no
momento seguinte.
Apesar de representarem valores opostos, petismo e trumpismo têm saldo
final similar: o rebaixamento da política democrática à guerra de bons
vs maus, o fim da civilidade, o acirramento da divisão social.
O petismo, esse estrangulamento cognitivo da esquerda brasileira, é uma
força em decadência. Mas isso não quer dizer que nossos problemas
acabaram. A direita brasileira está aprendendo rapidinho a lição de
Trump e já busca criar sua própria bolha de conservadorismo e culto a
personalidades; até a islamofobia estão importando. Seja de que lado
for, estaremos bem servidos. O que nos salva é o deboche.
extraídaderota2014blogspot
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