por Clóvis Rossi Folha de São Paulo
O Brasil é um país tão extraordinário que tudo o que já está muito ruim pode sempre piorar. Já se vivia um ambiente político apodrecido há bastante tempo, pelo menos desde a eclosão da Lava Jato (ou, para os mais realistas, desde que Cabral aportou por aqui).
Agora, no entanto, a putrefação ambiental fica ainda mais evidente no momento em que o presidente da República acusa o empresário Joesley Batista de ser "o criminoso notório de maior sucesso na história brasileira".
Que é criminoso, não resta dúvida. Ele próprio confessou crimes em série como o de comprar um cacho de parlamentares a ponto de gabar-se de ter a maior bancada no Congresso Nacional.
Que é um sucesso de bilheteria, tampouco se duvida. É talvez o maior retrato do que chamei de "capitalismo mafioso", característica do Brasil, em artigo publicado há exatamente um mês.
Para quem não quer se dar ao trabalho de procurar, reproduzo parágrafos essenciais:
"Uma brilhante análise desse capitalismo mafioso está no artigo de Bruno Carazza para a Folha deste sábado (20 de maio). É imperdível de A a Z, mas vale ressaltar um trecho que generaliza corretamente:
'De acordo com as regras de funcionamento do nosso capitalismo de compadrio, o sucesso de boa parte de nossas grandes empresas foi construído mediante corrupção, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro.
No melhor estilo 'rent seeking', nossos empresários investem em 'relações institucionais' em vez de bens de capital, tecnologia e produtividade da mão-de-obra'.
Acrescentei, à época e reafirmo agora: "Eu só trocaria 'capitalismo de compadrio' por 'capitalismo mafioso'. Os envolvidos, de um lado e outro do balcão, não são apenas compadres, são uma organização criminosa".
Não é coincidência que Joesley Batista tenha usado essa mesma expressão (organização criminosa) para se referir ao presidente Temer, na entrevista para a revista "Época".
É óbvio que Temer tem todo o direito de proclamar inocência até que se prove o contrário.
Mas como qualificar o presidente quando ele admite que recebeu na calada da noite, em sua própria residência, e sem registro na agenda esse "criminoso notório"? Seria um gesto de estadista?
A putrefação fica ainda evidente quando se sabe que outros líderes políticos que são ou foram relevantes na pátria degradada (Aécio Neves, Eduardo Cunha e Luiz Inácio Lula da Silva, para citar apenas os mais notórios) conviveram alegremente com o "criminoso notório".
Condenar os políticos por esse compadrio mafioso é necessário, mas é igualmente necessário não esquecer que "o sucesso de boa parte de nossas grandes empresas foi construído mediante corrupção, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro", como escreveu Carazza.
Pior: justamente o que Temer diz ter sido o "de maior sucesso" está livre, leve e solto.
Não é um país extraordinário? Ou seria apenas ordinário?
extraídaderota2014blogspot
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