Ruy Castro
Com o ex-governador Sérgio Cabral é assim. Levanta-se uma folha de seu inquérito na Polícia Federal e piscam novos anéis, brincos e colares,
comprados com dinheiro público, em espécie e à vista, para adornar
dedos, orelhas e pescoço de Adriana Ancelmo, sua mulher. Pelas últimas
contas, são 189 joias e pedras preciosas às mancheias.
É de se perguntar quantos dedos ou orelhas não teria a dita senhora ou
quantos anos levaria para desfrutar aquilo tudo, à média de uma peça por
dia. Um recém-chegado de Júpiter, desinformado sobre nossos políticos,
talvez enxergasse uma grande paixão nesse tesouro de Ali Babá que Cabral
despejou sobre madame.
Nos anos 60, falou-se isso do ator Richard Burton, que cumulava de joias
Elizabeth Taylor, a ponto de os fotógrafos já dispensarem os flashes
para fotografá-la, tantos os pingentes, colares e tiaras brilhando em
sua cabeça.
As elites europeias viam naquilo uma grande cafonice, mas Burton presenteava sua mulher com seu dinheiro.
Sérgio Cabral exercia sua cafonice com nosso dinheiro. Idas quinzenais a
Londres ou Paris, lautos rega-bofes com os sócios, conta-corrente em
alfaiates da nobreza e, na volta ao Rio, sempre vergado ao peso de
tantas malas —tudo isso traía o jeca, o deslumbrado, incapaz de
habituar-se ao dinheiro que passou a entrar-lhe às fábulas, subtraído
dos investimentos contratados pelo Estado.
Das joias compradas por Cabral para Ancelmo, só 40 foram localizadas até
agora. Onde estão as outras? Em segredo? Mas não há segredo. Estão em
todos os contratos feitos com renúncia fiscal, no dinheiro que deixou de
entrar em troca da propina e nas benesses para amigos à custa dos
cariocas e fluminenses que confiaram nele. O valor total é o da
quebradeira do Rio. As joias não passam de uma reles lavanderia de 18
quilates.
extraídaderota2014blogspot
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