por Rogerio Chequer Folha de São Paulo
O povo está revoltado, mas apático. Reclama, está inconformado com o que
vê, mas nada faz. Por quê? As causas são diversas, e não exclusivas.
A primeira tem a ver com o processo de limpeza. Quando você faz faxina
num lugar imundo, não há como a sujeira não aparecer. Pode ser no pano,
na água, no aspirador, mas em algum lugar ela aparece. No nosso Brasil, a
sujeira que está vindo à tona surpreende o mais velho dos demônios.
Brota de toda parte. Em todas as geografias, elites e poderes. É tanta
sujeira que o brasileiro comum não consegue mais acompanhar a velocidade
das descobertas, a variedade das investigações, e as maracutaias
jurídicas de cada uma. Qualquer um desses escândalos ocuparia o
noticiário por semanas, mas temos dezenas deles ocorrendo
simultaneamente, enquanto novos aparecem a cada dia. Perdido, o cidadão
se sente impotente, e observa a lama que vem de todos os lados subir
pelas suas pernas, sem nada poder fazer. A quantidade de sujeira, e sua
natureza grotesca, egoísta e inescrupulosa, paralisa.
A outra causa da apatia vem da frustração com a Justiça. O brasileiro
sempre soube que as instâncias inferiores, em sua grande maioria, fazem
vista grossa aos crimes de colarinho branco e corrupção. Sabe da
fanfarronice dos tribunais de contas regionais, que deixam a roubalheira
correr a céu aberto, levando para os mais ricos e privilegiados os
nossos escassos recursos públicos. Como se tudo isso não nos bastasse, o
país agora passa a assistir o inesperado: a politização das cortes
superiores, eleitorais e da última linha de defesa, o Supremo.
O povo, já pisoteado, descobre que não pode mais contar com os maiores
magistrados do país para fazer justiça aos maiores criminosos da
história do Brasil, criminosos esses que qualquer criança já consegue
identificar. O vergonhoso processo do TSE (tribunal Superior Eleitoral)
demostra que tudo, tudo é possível para safar os mais poderosos de serem
presos, depostos ou meramente penalizados. Assistir aos políticos que
protagonizaram o maior escândalo eleitoral da nossa geração —Dilma e
Temer— saindo ilesos e os juízes que os defenderam fazendo cara de
paisagem é a maior humilhação pela qual um povo do bem pode passar. Sem
neutralidade na última linha de tribunais do país, o brasileiro toma um
golpe fatal na sua outrora eterna esperança. E paralisa.
Talvez a explicação mais simples para a apatia seja cada brasileiro
perceber que o esquema é tão grande, tão maior que si mesmo, que ninguém
conseguirá resolvê-lo sozinho.
Como lidar com isso? Com uma grande coalizão. Ela vai permitir que os
pequenos se tornem grandes. Vai fazer com que se deixe de olhar para
baixo, para a lama, e se passe a olhar para a frente e enxergar a borda
final do lamaçal se aproximando. E ao olhar para o lado, se vislumbre
milhões de brasileiros marchando juntos, rumo ao fim deste triste
período de nossa história.
extraídaderota2014blogspot
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