editorial do Estadão
Para concluir a Usina Nuclear de Angra 3 serão precisos nada menos que R$ 17 bilhões, revelou o Estado.
E, se o governo federal desistir de sua construção e quiser
desmontá-la, o orçamento é também bilionário. Estima-se um montante de
R$ 12 bilhões para a quitação dos empréstimos feitos, o desmonte da
estrutura, a destinação das máquinas e o pagamento de uma infinidade de
dívidas. Sem dinheiro, o governo busca algum parceiro privado
internacional que torne possível retomar as obras no ano que vem. Desde
1984, a construção da usina já consumiu R$ 7 bilhões.
Seja qual for o caminho que se adote a partir de agora, a história de
Angra 3 revela uma obstinada sequência de erros desde suas origens,
ainda na década de 70 do século passado, passando pelo populismo do sr.
Lula da Silva, que a incluiu no Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) de 2009 e prometeu terminá-la em 2014. A promessa, como tantas
feitas na época, ficou no papel. Apenas 58% de seu projeto foi executado
e, uma vez mais, Angra 3 ganha contornos de uma herança maldita. Apenas
para manter as máquinas de geração nuclear, a Eletronuclear, empresa de
economia mista subsidiária da Eletrobrás e responsável pela Usina de
Angra 3, já gastou mais de R$ 1 bilhão.
Em 1975, o governo do presidente Ernesto Geisel, num típico arroubo
nacionalista dos tempos de regime militar, achou que mostraria
independência em relação aos Estados Unidos e acentuaria a grandeza do
Brasil caso assinasse um acordo nuclear com a então República Federal da
Alemanha. E assim foi feito. Na época, o governo militar alardeou que o
tratado, ao incluir a transferência de uma determinada tecnologia
atômica, supostamente desenvolvida pela empresa alemã Kraftwerk, daria
ao País o tão sonhado domínio do ciclo nuclear. O problema é que aquela
tecnologia ainda não tinha sido criada. Sob o pretexto de defender o
interesse nacional, o governo militar comprometeu-se a comprar uma coisa
que a rigor não existia.
Com essa pré-história tão complicada, misturando aspiração de grande
potência, política energética e investimento em infraestrutura, a Usina
de Angra 3 começou a ser erguida em 1984. Suas obras prosseguiram até
1986, quando foram paralisadas em razão de dificuldades econômicas e
políticas. Naquele ano, ocorreu o maior desastre nuclear do mundo, com a
explosão do reator da usina de Chernobyl, na Ucrânia. Ainda que sem ser
oficialmente abandonado, desde então o projeto de Angra 3 ficou parado.
Em 2009, o presidente Lula da Silva incluiu Angra 3 entre os destaques
do PAC, prometendo concluí-la em cinco anos a um custo de R$ 8,3
bilhões. Oficialmente, as obras foram retomadas em junho de 2010.
Em 2015, o andamento das obras de Angra 3 foi oficialmente suspenso em
razão de denúncias de corrupção, investigadas pela Operação Lava Jato.
Desde setembro de 2014, atuava na usina o consórcio “Angramon”,
destinado a executar a montagem eletromecânica da usina. Era formado
pelas empreiteiras UTC Engenharia, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo
Corrêa, Queiroz Galvão, Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) e
Techint. Em abril de 2016, Flavio David Barra, ex-presidente da Andrade
Gutierrez Energia, relatou em depoimento à Justiça do Rio de Janeiro
pagamentos ilegais feitos pela empresa a membros da diretoria da
Eletronuclear. Como se não bastassem os muitos erros de planejamento, a
corrupção tornava ainda mais distante o término das obras.
Caso seja concluída com os R$ 17 bilhões estimados, a Usina de Angra 3,
com capacidade de 1.405 megawatts (MW), terá um custo total de R$ 24
bilhões. A título de comparação, a Hidrelétrica de Teles Pires, na
divisa entre Mato Grosso e Pará, com potência de 1.820 MW e que entrou
em operação no fim de 2015, custou R$ 3,9 bilhões. Angra 3 é, portanto,
um caso paradigmático do quanto sai caro usar mal o dinheiro público.
EXTRAÍDADEPUGGINA.ORG
0 comments:
Postar um comentário