editorial do Estadão
A reforma da Previdência, sozinha, não resolve o problema do grave
desequilíbrio fiscal que compromete a retomada do desenvolvimento, mas
será responsável por parte substancial da solução, razão pela qual tem
grande importância prática e simbólica. É por essa razão que a reforma é
considerada prioritária pelo governo e, por outro lado, se tornou alvo
preferencial das mentiras da oposição. Para o lulopetismo e aliados,
mais do que “impedir que um governo ilegítimo acabe com a aposentadoria
dos trabalhadores”, é importante impor-lhe, a qualquer custo, uma
derrota política, com o duplo objetivo de se vingar do impeachment de
Dilma Rousseff e abrir espaço para o discurso “progressista” voltar ao
poder. Em outras palavras, para Lula, o PT e a esquerda sem votos, só
importa que a crise política, econômica, social e moral se agrave
porque, para eles, quanto pior, melhor.
Bom era nos tempos de Lula. É a ideia que pretende vender a propaganda
do PT veiculada há dias na TV. A peça conta mentiras como a de que no
governo Lula “sobrava dinheiro na Previdência” e que agora “o
trabalhador terá que contribuir 49 anos para receber 100% da
aposentadoria”, escamoteando o fato de que o governo já concordou em
baixar o tempo de contribuição para 40 anos. Em seguida, o réu em cinco
processos da Lava Jato dá uma lição de populismo: “Nós fizemos um país
em que cabia todo mundo. Eles deram um golpe para fazer um país em que
só eles cabem. Nesse governo ilegítimo, o estudante não cabe na
faculdade. O trabalhador não cabe na folha de pagamento. E o aposentado
não cabe nas contas da Previdência”.
Não é verdade que no governo do PT “cabia todo mundo”. Lula dividiu o
País entre “nós” e “eles”. Entre estes últimos estavam “as elites”, com a
óbvia exceção dos grandes empresários-amigos, principalmente
empreiteiros e donos de grandes conglomerados industriais e financeiros.
Nunca certos negócios faturaram tanto no Brasil como nos governos do
PT. “Eles”, portanto, são só os que não apoiaram ou fizeram negócios com
Lula e a tigrada.
Exatamente porque não é de hoje que “o aposentado não cabe nas contas da
Previdência” que Lula e Dilma tentaram promover reformas para corrigir
essa anomalia. Na última tentativa frustrada para aprovar seu projeto de
reforma, a então presidente Dilma declarou a jornalistas, em janeiro do
ano passado: “Vamos ter que encarar a reforma da Previdência. Não é
possível que a idade média de aposentadoria no Brasil seja 55 anos”. Por
sua vez, Lula, que já conhecia a dificuldade de aprovar qualquer
alteração no sistema previdenciário, declarou na mesma ocasião, em
defesa de sua pupila: “A Previdência, de vez em quando, deve ser
reformada. Quando a lei foi criada, se morria com 50 anos. Hoje, a
expectativa de vida é de 75 anos”.
Em oito anos na Presidência, Fernando Henrique Cardoso só conseguiu
aprovar parcialmente a reforma que propôs. O Congresso concordou apenas
com pequenas alterações relativas ao sistema previdenciário privado,
recusando em bloco a mexida no setor público. Esta última aconteceu,
também apenas parcialmente, no início do governo Lula, em dezembro de
2003, e foi anunciada na ocasião como a “primeira grande vitória” do
governo petista no Congresso. O monumental déficit que hoje condena a
Previdência à insolvência iminente demonstra irrefutavelmente que desde a
aprovação da Constituição, em 1988, nenhum governo conseguiu aprovar
uma reforma digna do nome, capaz de garantir um sistema sólido de
aposentadoria e pensões.
O tempo passa e a situação do sistema previdenciário se torna a cada dia
mais precária. Essa reforma não pode, portanto, ser reduzida a uma
questão político-partidária ou a interesses corporativos. É uma questão
de Estado e por isso não se trata de apoiar ou não apoiar o governo, mas
de garantir o interesse público.
Lula, porém, entende que o certo é sabotar a reforma agora, porque
depois ele conserta tudo. Mas não foi por tudo saber e tudo poder que o
demiurgo de Garanhuns deixou o País na triste situação em que se
encontra?
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