JOSIAS DE SOUZA
Suprema ironia: um dia depois de recorrer ao Comitê de Direitos Humanos da ONU contra o juiz Sérgio Moro, Lula foi enviado ao banco dos réus por outro magistrado. O doutor Ricardo Leite, de Brasília, aceitou a denúncia em que a Procuradoria da República acusa Lula, o senador cassado Delcidio Amaral e outras cinco pessoas de tentar sabotar a Lava Jato comprando o silêncio do delator Nestor Cerveró por R$ 250 mil.
Esse pedaço do escândalo ficou em Brasília graças ao empenho da defesa de Lula para desmembrar a Lava Jato, afastando-a da mesa de Moro. O petismo soltou fogos quando o ministro Teori Zavaschi, relator do caso no STF, decidiu manter na Capital esse naco do inquérito. Deu chabu. A exemplo do que já sucedeu com partes do processo enviadas para outras praças, juízes de São Paulo e do Rio parecem acometidos de uma espécie de ‘efeito Moro’. Tomam decisões draconianas uma atrás da outra.
Para que outra época comece, a faxina é fundamental. É preciso recolocar o abajur em pé, desentortar a vara do trombone e certificar-se de que o governo de Michel Temer não continuará tentando esconder peemedebistas sujos sob o tapete. Dessa limpeza depende a qualidade da democracia brasileira.
Lula amou a democracia até o capítulo que estipulava que um ex-operário também pode chegar à Presidência da República. Passou a abominar o sistema depois que o Brasil se deu conta de que numa democracia plena todos são iguais perante a lei. Tratado como detrito e já meio farto de tanta democracia, Lula agora se queixa à ONU dos alegados excessos da “República de Curitiba”.
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