ANDRÉ GUSTAVO STUMPF CORREIO BRAZILIENSE
Sem muitas alternativas, os judeus, convertidos ou não, fugiram para a América. Trabalharam nas plantações de cana-de-açúcar no Caribe e em Pernambuco, onde criaram, aliás, a primeira sinagoga no Novo Mundo ao tempo da dominação holandesa. Depois, tiveram que fugir de novo e fundaram outra sinagoga, desta vez em Nova Amsterdã, que foi rebatizada quando os ingleses dominaram a ilha: Nova York. Tudo isso tem implicações diversas na história do Brasil.
Espanha e Portugal passaram por momentos difíceis no século passado. Franco, ditador feroz, teve o cuidado de manter seu país em situação de atraso permanente, distante dos progressos europeus. Salazar, em Portugal, também tratou de estacionar como uma espécie de sociedade do norte da África, longe das liberdades e vantagens sociais dos vizinhos no continente. Em pouco tempo, contudo, desde que os dois ditadores morreram, os dois países ibéricos tiveram nível de desenvolvimento incrível e finalmente entraram na Europa.
Nada disso aconteceu por obra do acaso. São dois protagonistas. Soares e Suárez. Em julho de 1976, o Rei Juan Carlos I encomendou a Adolfo Suárez a formação do segundo governo de seu reinado e, por consequência, a desmontagem das estruturas franquistas. Ele era desconhecido para a maioria do povo espanhol. Mas, aos 43 anos, soube aglutinar grupos democráticos de diversas tendências. Reuniu social-democratas, liberais, democratas, democrata-cristãos e até falangistas. Desmontou o regime anterior com apoio do Partido Socialista Espanhol e do Partido Comunista.
Mário Soares, em Portugal, fez a sua parte. A revolução dos cravos, movimento militar contrário à manutenção das colônias ultramarinas derrubou o governo de Lisboa, na época, chefiado pelo advogado Marcelo Caetano. Os comunistas pularam na frente. Dominaram a ex-colônias (estão no poder até hoje em Angola e Moçambique) e tomaram o governo em Lisboa. Chegaram a realizar uma reforma agrária do minúsculo país. Mário Soares, socialista, deu a volta em todos os problemas, até nas nacionalizações forçadas, fez as reformas necessárias e colocou o país na União Europeia. Portugal descobriu a liberdade e o crescimento. A democracia se implantou e está lá até hoje.
A presidente afastada, Dilma Rousseff, apresentou sua defesa à comissão do impeachment que trabalha no Senado Federal. No início do mês, os senadores deverão votar para aceitar ou não a denúncia. Na última semana de agosto, o processo irá a voto para determinar, em caráter definitivo e mandatório, se a presidente da República deixará seu cargo por força de impedimento determinado pelo Congresso. Fim de uma era.
O grupo de políticos que gravitou em torno do líder trabalhista Luis Inácio Lula da Silva prometia um futuro melhor para o país. Seria o modelo de crescimento econômico e social por intermédio da visão de esquerda. Algo assemelhado ao que ocorreu na Península Ibérica. Lá funcionou. Aqui as sucessivas ações dos petistas produziram recessão, endividamento, desemprego em larga escala e inflação além de qualquer previsão. Por último, numa página vergonhosa, os principais operadores do PT estão envolvidos em tenebrosas transações financeiras. O partido ocupou-se prioritariamente de assaltar os cofres da nação.
O último capítulo da administração Rousseff vai demonstrar que os governos do PT não deixam legado relevante à população brasileira. O Brasil de hoje é pior do que era há dez anos. Os índices econômicos pioraram, as tabelas educacionais demonstram recuos sensíveis e importantes. E por todo lugar para onde se olha encontram-se falências, portas fechadas, estados quebrados, recessão e desalento. Não sobrou nada para o brasileiro comemorar. Esse é o legado do governo trabalhista e de esquerda no Brasil. Na Península Ibérica não foi assim. Alguém não entendeu que os tempos haviam mudado, sobretudo depois da queda do muro de Berlim.
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