Jornalista Andrade Junior

sábado, 21 de maio de 2016

"Nem luxo nem lixo"

 Nelson Motta: O Globo

Com o país quebrado e urgências assustadoras, para o governo a cultura é um luxo, ou um lixo



Se, como ministério, a Cultura já tinha pouco prestígio e nenhuma força política, imaginem como um puxadinho burocrático submetido ao Ministério da Educação de Mendonça Filho. Com um orçamento de R$ 2,6 bilhões, mas R$ 1,6 bilhão de restos a pagar e R$ 230 milhões de dividas já vencidas, é tecnicamente inviável.
Na partilha do butim, disputando grandes obras e verbas, os novos donos do governo, que incorporou o pior dos que até ontem mamavam no governo Dilma, só se lembraram da cultura para fazer demagogia barata, “cortando” um ministério de orçamento irrisório e virtualmente quebrado. Uma irresponsabilidade política, uma inutilidade econômica e um desastre de marketing, previsível e desgastante.
Foi constrangedor ver Marta Suplicy tentando emplacar Daniela Mercury, Bruna Lombardi ou Marília Gabriela para segurar esse rabo de foguete, sem mínimas condições técnicas e políticas, fora de suas habilidades profissionais. É a cultura como instrumento de marketing rasteiro, usando a popularidade dessas mulheres para atrair simpatia para o governo. É o oposto da nomeação da qualificadíssima Maria Silvia para o BNDES.
Com o país quebrado e urgências assustadoras, para o governo a cultura é um luxo, ou um lixo, uma sobremesa depois do almoço, se houver almoço. Não entendem que a indústria cultural é tão vital para o desenvolvimento do país como o comércio, a produção e os serviços. Sem cultura, diversão e arte, seremos uma nação de formigas produzindo como máquinas, comandados por cigarras que só sabem gastar e falar.
O governo de homens brancos e antigos, e como se viu, teimosos, perdeu a oportunidade de mostrar autoridade e uma altiva humildade democrática, e fazer o que Dilma nunca fez: reconhecer seu erro, assumir sua responsabilidade e rever a decisão desastrada.
Uma secretaria de Cultura, mesmo autônoma e despartidarizada, mesmo com um gestor competente, não só para administrar a massa falida, mas para preservar e desenvolver as conquistas e democratizar a produção e o acesso à cultura, sem a sua independência assegurada pelo governo e o ministro da Educação, é um retrocesso histórico.














extraídaderota2014blogspot

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