Nelson Motta: O Globo
Se, como ministério, a Cultura já tinha pouco prestígio e nenhuma força
política, imaginem como um puxadinho burocrático submetido ao Ministério
da Educação de Mendonça Filho. Com um orçamento de R$ 2,6 bilhões, mas
R$ 1,6 bilhão de restos a pagar e R$ 230 milhões de dividas já vencidas,
é tecnicamente inviável.
Na partilha do butim, disputando grandes obras e verbas, os novos donos
do governo, que incorporou o pior dos que até ontem mamavam no governo
Dilma, só se lembraram da cultura para fazer demagogia barata,
“cortando” um ministério de orçamento irrisório e virtualmente quebrado.
Uma irresponsabilidade política, uma inutilidade econômica e um
desastre de marketing, previsível e desgastante.
Foi constrangedor ver Marta Suplicy tentando emplacar Daniela Mercury,
Bruna Lombardi ou Marília Gabriela para segurar esse rabo de foguete,
sem mínimas condições técnicas e políticas, fora de suas habilidades
profissionais. É a cultura como instrumento de marketing rasteiro,
usando a popularidade dessas mulheres para atrair simpatia para o
governo. É o oposto da nomeação da qualificadíssima Maria Silvia para o
BNDES.
Com o país quebrado e urgências assustadoras, para o governo a cultura é
um luxo, ou um lixo, uma sobremesa depois do almoço, se houver almoço.
Não entendem que a indústria cultural é tão vital para o desenvolvimento
do país como o comércio, a produção e os serviços. Sem cultura,
diversão e arte, seremos uma nação de formigas produzindo como máquinas,
comandados por cigarras que só sabem gastar e falar.
O governo de homens brancos e antigos, e como se viu, teimosos, perdeu a
oportunidade de mostrar autoridade e uma altiva humildade democrática, e
fazer o que Dilma nunca fez: reconhecer seu erro, assumir sua
responsabilidade e rever a decisão desastrada.
Uma secretaria de Cultura, mesmo autônoma e despartidarizada, mesmo com
um gestor competente, não só para administrar a massa falida, mas para
preservar e desenvolver as conquistas e democratizar a produção e o
acesso à cultura, sem a sua independência assegurada pelo governo e o
ministro da Educação, é um retrocesso histórico.
extraídaderota2014blogspot
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