Rodrigo Constantino - Veja
Ao ler a notícia hoje
de que o Diretório Nacional do PT aprovou a expulsão de seus membros
comprovadamente envolvidos em corrupção (mas não de imediato), fiquei
com a sensação de déjà vu e fui me certificar de que não pegara um
jornal de uma década atrás. Como assim? Eu poderia jurar que o estatuto
do PT já contemplava tal expulsão para corruptos!
“Manifestamos
a disposição firme e inabalável de apoiar o combate à corrupção.
Qualquer filiado que tiver, de forma comprovada, participado de
corrupção, deve ser expulso”, diz trecho. Bem, deixando de lado essa
questão de que a coisa já era assim antes e não fica claro ao certo o
que mudou, resta perguntar: então José Dirceu vai finalmente ser expulso
do PT e não mais receber aplausos emocionados sob o grito de “guerreiro
nacional”?
Quer comprovação maior do que ser condenado pelo STF após todos os
devidos processos legais e chances quase inesgotáveis de apelação? “Se
há algum envolvimento, quero saber se as denúncias são comprovadas ou
não. Todos têm direito a defesa e contraditório. Reafirmo que se alguém
estiver envolvido, não ficará no PT”, disse Rui Falcão, presidente do
PT. Mais direito a defesa do que teve Dirceu, Delúbio e companhia? No
entanto, não vamos esquecer que nem William Bonner nem Aécio Neves
conseguiram arrancar de Dilma sequer sua opinião sobre a condenação dos
companheiros…
Tudo isso é uma grande piada de mau gosto. As coisas que o PT fala,
escreve e faz são para “inglês ver”, ou mais precisamente para “inocente
útil brasileiro ver”. Todo o esforço do partido vai na direção de
simular que os escândalos que arrastam os seus na lama se devem a
fatores exógenos, ao sistema político, ao financiamento privado de
campanha, e que ele faz de tudo para combater tal corrupção.
O pior é que ainda tem gente que acredita! Como escreve Guilherme Fiuza
em sua coluna da “Época” desta semana, um tanto incrédulo, surge em meio
às vozes que defendem Dilma e o PT para se sentir progressistas “o
postulado central para tentar salvar o pescoço do governo: relativizar a
corrupção da Petrobras”.
Pessoas que se acham sérias e não estão (ainda) a soldo do petismo
repetem que o ocorrido na maior estatal do país foi algo “normal”, que
sempre ocorreu antes. O foco dos petistas em debater a “reforma
política” e proibir o financiamento privado de campanha visa justamente a
essa tática: jogar para ombros alheios o que o partido fez, e tratar
tudo como parte natural da política brasileira.
O mesmo recurso usado por Lula no mensalão ao falar de caixa dois, o que
“todos fazem”. Um empresário que se disse tucano chegou ao absurdo de
escrever em um artigo na Folha que hoje se rouba até menos na Petrobras
que no passado. Música para os ouvidos dos petistas e dos inocentes
úteis que desejam fechar os olhos para a realidade para preservar a
sensação de defensores dos pobres e oprimidos (só porque apertaram 13
nas urnas). Diz Fiuza:
Vamos
explicar aos ignorantes ou mal-intencionados (a esta altura, dá no
mesmo): o PT não ficou igual aos outros; o PT não é corrupto como os
outros, nem um pouco menos, nem um pouco mais; o PT é o único, sem
antecessor na história do Brasil, que montou um sistema de corrupção no
Estado brasileiro, de dentro do Palácio do Planalto, para enriquecer o
partido e se eternizar no poder.
Como alguém ainda não
se deu conta disso é, para mim, um espanto. José Dirceu, o ex-ministro
de Lula e homem forte do ex-presidente, foi preso não por corrupção
“apenas”, mas por montar um duto entre as estatais e o caixa do partido,
privatizando o dinheiro dos “contribuintes” para alimentar o projeto
autoritário de poder do PT. O mesmo se deu na Petrobras, sem nenhum tipo
de receio da quadrilha após o mensalão vir à tona. Fiuza pergunta:
Deu
para entender, queridos inocentes úteis? O roubo não é a velha
esperteza de uns oportunistas com cargos na máquina. O roubo é um
projeto político de poder. Que, aliás, graças a seres compreensivos como
vocês, dá certo há 12 anos. [...] Vocês estão esperando o quê? Que um
companheiro bata na sua porta informando-lhe com ternura que veio buscar
suas calças?
Parece que é exatamente aquilo que alguns esperam. Fiuza é até
obsequioso ao chamá-los de “inocentes úteis”. São aqueles que vão
aplaudir as “mudanças” aprovadas no PT para, agora, expulsar os
corruptos. Mas não imediatamente. Afinal, ninguém precisa ser tão duro
assim com esses pobres heróis injustiçados, que tentam apenas melhorar a
vida dos oprimidos em um sistema cruel que os obriga a desviar recursos
públicos…
fonte rota2014
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